RESUMOA construção desta investigação iniciou-se quando percebemos que os mesmos usuários procuravam com frequência o serviço de Pronto-Socorro (PS), mesmo sem o caráter de urgência ou emergência. Objetivamos analisar a utilização do PS de um município do Interior de São Paulo, para identificar se esses usuários realizam seguimento de saúde, caracterizar os usuários atendidos e levantar as suas necessidades para diversos atendimentos no PS. O estudo é quantitativo e qualitativo. Caracterizamos todos os usuários que procuraram sete vezes, no mínimo, o OS, e chegamos a uma amostra quantitativa de 483 usuários. Destes, 52,17% eram do sexo masculino e 41,61% tinham entre 18 e 39 anos. Realizamos, em domicílio, entrevistas semiestruturadas com 17 usuários, as quais foram gravadas, interpretadas e analisadas pelo método da análise de conteúdo. A demora no agendamento das consultas nas UBSs, os horários de funcionamento coincidindo com turnos de trabalho e a obtenção das medicações facilitadas no PS resultaram nas principais necessidades de frequente procura por atendimento. Concluímos que o seguimento de saúde desses usuários ficou comprometido devido à dificuldade de acesso à rede básica de saúde.
INTRODUÇÃOA construção desta investigação teve início durante o processo de acolhimento vivenciado em um serviço de Pronto-Socorro (PS) onde percebemos que os mesmos usuários procuravam com grande frequência o serviço, sem o caráter de urgência e emergência, e saíam sem uma efetiva resolutividade da atenção.No cotidiano do trabalho, e em algumas leituras relacionadas à saúde pública, podemos perceber a assistência, junto aos indivíduos e aos grupos sociais, orientada pela visão que se tem de saúde, doença, trabalho e vida. O contexto histórico capitalista, com a necessidade da produção, do lucro e da força de trabalho, moldou uma sociedade com a visão do processo saúde-doença do ser humano biologicista, fragmentada e medicamentosa (1) . Isso, hoje, pode ser exemplificado com a excessiva procura pelos serviços de saúde de prontidão. Para que haja a mudança do conceito saúde-doença não só dentro de uma teoria social de assistência à saúde, mas efetivamente dentro da prática social dessa assistência (2) , faz-se necessária uma mudança coletiva daquilo que se entende por saúde-doença. A Constituição Federal de 1988 institucionalizou o Sistema Único de Saúde (SUS) e regulamentou princípios ético-doutrinários e organizacional-operativos que dizem respeito à saúde. Entre eles está o da integralidade da assistência, entendido como "um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos, curativos, individuais e coletivos, exigido para cada caso, em todos os níveis de densidade do sistema" (3:18) . O princípio da resolutividade também foi incluído, entendido como um conjunto de enfoques que envolvem aspectos relativos à demanda, à satisfação do _______________