“…Esse movimento na história das ciências redireciona a percepção de validade das diversas teorias que surgiram na matriz psicodinâmica da pesquisa do trauma -como as teorias da se-dução 16 e da fantasia 17 , na obra freudiana, ou da confusão de línguas 18 e do nascimento 19 , introduzidas por Ferenczi e Rank, respectivamente -, mas também o rebaixamento da importância de teorias comportamentais historicamente alinhadas ao espectro somático da pesquisa do trauma, como a teoria do condicionamento clássico de Pavlov 20 . A cooperação entre as neurociências e a psiquiatria norte-americana inaugura, assim, um novo cenário em que não só a mente humana e seus múltiplos produtos linguísticos, culturais e sociais serão expatriados da concepção etiológica da traumatização, mas mesmo a cognição e o comportamento serão também subtraídos do debate em nome de elementos tanto microscópicos quanto mensuráveis 21,22 , como as concentrações de substâncias neuroquímicas, as oscilações neuro-elétricas e as composições neuroanatômicas, pois o trauma do século XXI resgatará algo de sua origem cirúrgica: ele reverterá os caminhos pelos quais a lesão física historicamente alcançou os estados psicológicos para, enfim, ser revisualizado como um evento pertencente ao território do cérebro e à dinâmica cerebral 21 .…”