A região turística da Baixada Fluminense (RJ): entre o verde e a violência

Abstract

A Baixada Fluminense, localizada no entorno da cidade do Rio de Janeiro e integrada como região metropolitana em conjunto com a capital, é retratada no imaginário e no real como território de subdesenvolvimento, atraso, pobreza e violência. Apesar dessa realidade violenta, no segundo semestre de 2017, dez dos treze municípios da Baixada Fluminense foram agrupados ineditamente em uma nova região turística do estado, batizada como Baixada Verde. O objetivo principal desse trabalho foi investigar os principais entraves ou pontos fracos para o desenvolvimento do turismo na região. A partir da suposição de que a violência e a ausência de segurança pública são os principais problemas para o desenvolvimento da atividade turística, a metodologia desse trabalho foi delineada. Foi utilizada nessa pesquisa revisão de literatura a respeito da história e da violência na Baixada. Como principal técnica que levou à análise e discussão de resultados está a aplicação de entrevistas estruturadas e com 8 entrevistados escolhidos não aleatoriamente, mas devido aos cargos de trabalho que ocupam e posteriormente analisadas sob a ótica da análise de conteúdo. O resultado alcançado reforça a suposição da violência como problemática, mas tem destaque em outros achados como a falta ou precária tanto infraestrutura, quanto planejamento, além de pouco investimento e falta de vontade política de desenvolver o turismo na região.

Recursos e Atrativos Naturais na Região Turística Baixada Verde (RJ): Uma Análise Sobre o Município de Magé

“…Em contraponto, a Região Turística que compreende a maior parte do território da Baixada Com um relevo formado por extensas planícies (Silva, 2019), os 10 municípios da Baixada Verde possuem juntos, aproximadamente, 2.210 km² e cerca de 3,6 milhões de habitantes (IBGE, 2021). Historicamente, o território relativo à Baixada Verde sofre com problemáticas sociais ligadas a, principalmente, questões de pobreza, violência e falta de infraestrutura (Kalaoum & Trigo, 2021). Essas debilidades resultam de processos de periferização e ausência de políticas públicas de ordenamento urbano nessa região ao longo dos anos (Silva, 2019).…”

“…Apesar das adversidades sociais, a região possui um imponente potencial turístico detentor de um rico patrimônio histórico-cultural e natural, constituído por portos, sítios arqueológicos, igrejas, ferrovias, escolas de samba, praias, cachoeiras e parques naturais (Guimarães, 2010;Kalaoum & Trigo, 2021). Nesse sentido, o turismo passa a ser percebido como uma alternativa para o desenvolvimento da região, na perspectiva de melhoria da infraestrutura local e qualidade de vida da população (Fogaça et al, 2020).…”

“…No ano de 2017, a gestão do turismo da Baixada Verde se mobilizou para promover o desenvolvimento da atividade e transformar a imagem social da região através do turismo, frequentemente associada a percepções de violência (Kalaoum & Trigo, 2021). Esse episódio culminou na criação da Instância de Governança Regional e do Observatório de Turismo da região (Fogaça et al, 2020), importantes instrumentos de planejamento e gestão de destinos turísticos (Pacheco et al, 2023;Fogaça, Tavares & Kalaoum, 2023).…”

“…Na literatura do turismo é possível encontrar estudos sobre a articulação da IGR Baixada Verde e as experiências do Observatur (Fogaça et al, 2020;Fogaça, Costa & Mendonça, 2021), além de trabalhos que discutem o potencial turístico da região em contraste com a violência (Kalaoum & Trigo, 2021;2022). No que tange às áreas naturais da Baixada Verde, predomina na literatura estudos sobre o Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu -PNMNI (Queiroz & Vallejo, 2017;Santos, Gomes & Cordeiro, 2020;Oliveira & Fogaça, 2021), enquanto as áreas verdes de Magé, no âmbito do turismo, são ressaltadas no contexto do PARNASO, que abrange parte do município (Lima & Nascimento, 2018;Pessoa & Santos, 2022).…”

Violência, Lazer e Turismo na Baixada Fluminense - Verde

“…A região da Baixada Fluminense, localizada na região metropolitana da capital Rio de Janeiro, é reconhecida e retratada como local de extrema pobreza, subdesenvolvimento e violência. Essa Enquanto o trabalho de Kalaoum & Trigo (2021) focou no cenário político, ou seja, na percepção dos atores que compõem a arena política institucional e a percepção deles sobre a criação e dificuldades de alavancar o projeto da Baixada Verde, essa pesquisa focou na construção historiográfica de acumulação social da violência e a opinião pública da população da região, entrelaçando os temas da violência, turismo e lazer. Os principais achados dessa investigação indicam que: (1) a acumulação da violência em território baixadense é o resultado de um processo histórico e que as manifestações de atentado contra a vida de outrem ocorrem em dinâmicas e tempos diferentes; (2) em segundo lugar, indica que a população da baixada apresenta restrições às mobilidades físicas por conta de um processo de reterritorialização nos turnos dia/noite; (3) há também a impressão que grupos paraestatais agem em prol da morte da população, pois, considerável parte dos respondentes acredita que milicianos e integrantes de facções de tráfico agem para que a população tenha um vida pior ou morra; 4-por fim, essa pesquisa identificou que há uma dicotomia na Baixada: apesar da imagem e imaginário violentos, os respondentes acreditam que é possível realizar turismo local, além de considerável parte praticar lazer no próprio território.…”