A propriedade social como suporte da existência: a crise do individualismo moderno e os modos de subjetivação contemporâneos

Abstract

Este artigo discute o conceito de propriedade social (Castel, 1998; 2000) como possibilidade de problematização dos modos de subjetivação contemporâneos. A genealogia da sociedade salarial proposta por Robert Castel nos permite pensar a construção da propriedade social como suporte da existência e como garantia do gozo dos direitos de forma igualitária. As transformações dos modos de subjetivação associadas ao novo modelo de acumulação capitalista reinstaurou a desigualdade e a insegurança como forma de revitalizar a competição enquanto valor central da sociedade neoliberal. Propomos aqui utilizar o modelo compreensivo de Castel para pensar os análogos da propriedade social construídos na história brasileira e que marcam a relação entre os modos de subjetivação e o trabalho.

La nouvelle informalité et la flexibilité du travail au Brésil

“…Comme conséquence de cette société d'incertitude, il s'est forgé un code moral qui milite pour la notion de présent permanent, lié à l'aspiration pour la consommation immédiate et à la culture de l'individualisme (Nardi, 2003). Le discours de l'entrepreneuriat s'est mis à véhicu-ler l'image d'un nouveau travailleur comme un sujet capable d'être flexible face à l'adversité du marché, créatif et disposé à assumer les risques de l'investissement dans son propre négoce.…”

Subjetividade e solidariedade: a diversidade das formas de implicação dos jovens na economia solidária

“…Assim, a ES tenta oferecer uma solução ao desemprego, à desfiliação da rede de proteção do Estado ligada à legislação trabalhista (Castel, 1998) e ao incremento da parcela dos "nunca filiados". Termo utilizado por Nardi (2003) para definir a condição dos trabalhadores que nunca foram integrados a qualquer forma de suporte social para a existência, situação comum no Brasil e que distingue nosso mercado de trabalho daquele próprio à sociedade salarial, componente fundamental do modelo de Estado Social europeu.…”

"Tem gente que não quer saber de trabalhar": apontamentos sobre o discurso da vadiagem na Praça da Sé (SP)

“…Indeterminação expressa também nas próprias falas dos entrevistados, carregadas de contradições e ambiguidades quanto à adesão ao código do trabalho enquanto processo identificatório (NARDI, 2003). Tudo isso aliado à realização da entrevista com Tião que possibilitou outra visão acerca do mundo do trabalho, da significação do espaço da rua e do modo de ser pautado pela disciplina do trabalho e pelo consumo.…”

“…Em um país com uma abismal desigualdade social, dificilmente o "outro" vai ser visto como igual, especialmente, ser for membro da classe pobre. Como aponta Nardi (2003): Acreditamos que a liberdade necessária para a construção de uma ética que se formula, de fato, a partir de uma prática reflexiva baseada no respeito à diferença e aberta à alteridade é, parcialmente, dependente de suportes materiais que permitam ao indivíduo se afirmar para além do mundo da necessidade, ou seja, para além da luta cotidiana pela sobrevivência (p.43). Kowarick (2002) já apontou que a nossa "questão social"-anulação daqueles que são percebidos como diferentes e inferiores -é decorrente do desenraizamento do assalariamento formal, cuja expressão é o aumento do número de desempregados e da mão-de-obra sem carteira assinada, somados a um sem número de tarefeiros de toda ordem, provocado pela instabilidade e pela precarização do trabalho.…”