A planície costeira holocênica de Campos Verdes (Laguna, SC): evolução sedimentar inferida a partir de georradar (GPR), granulometria e minerais pesados

Abstract

Resumo Situada no litoral sul de Santa Catarina, a planície de Campos Verdes caracteriza-se por feixes de cordões litorâneos, transversais à costa atual, separados entre si por truncamentos em padrão côncavo-convexo. Parte dos cordões superpõe-se por campos de paleodunas parabólicas orientadas para SW, atribuídos à geração eólica 3 (pós-máxima inundação holocênica). Limita-se a SW por uma faixa arenosa 1m mais alta, sem cordões aparentes, sobre a qual se assentam quatro sambaquis. A evolução da planície teve início a partir do ancoramento dos primeiros cordões sobre esta faixa, que corresponderia a um paleopontal formado segundo os modelos de circulação lagunar de Zenkovitch e que teria servido como "armadilha" para o acúmulo sedimentar. Esta hipótese é reforçada pelo mergulho para norte de refletores GPR, indicação de progradação nesse rumo. O padrão McLaren de variação granulométrica "mais fino, melhor selecionado e mais negativo" para norte pode ser atribuído a sucessivo retrabalhamento sedimentar no decorrer da progradação. Em perfil longitudinal aos cordões, a tendência de engrossamento, melhora de seleção e assimetria mais positiva para W refletiria o transporte por deriva litorânea. A variação de minerais pesados evidencia maior concentração de componentes instáveis, em detrimento dos ultraestáveis, nas porções norte e oeste da planície, com aumento da relação turmalina/zircão para NW. A queda de maturidade mineralógica no setor formado ao final da progradação pode ser atribuída a: 1. concentração gradual por seleção hidraúlica; 2. aumento de aporte sedimentar da frente deltaica do rio Tubarão; e 3. menor tempo de atuação da dissolução pós-deposicional nos cordões mais novos.

Sedimentologia, cronologia e dinâmica progradacional das planícies costeiras de Campos Verdes e Ji (Laguna, SC)

“…Com enfoque interdisciplinar geologia-arqueologia, Tanaka (2007) e Menezes (2009) estudaram relações de proveniência entre um dos sambaquis arenosos de Carniça e as dunas e cordões de Campos Verdes. Com base em fotointerpretação, seções de GPR e análises granulométricas e mineralógicas, Tanaka (2007) e Tanaka et al (2008Tanaka et al ( , 2009a propuseram um modelo preliminar de evolução sedimentar para a planície de Campos Verdes, segundo o qual os primeiros cordões litorâneos teriam sido ancorados sobre um paleopontal de areia (faixa sem cordões orientada segundo NW) e progradado rumo NE. O trabalho mais recente na interface geologia-arquelogia sobre a região (Giannini et al 2010) classifica os sambaquis segundo critérios geográficos, de idade e composicionais, de modo que associa a formação dos sambaquis à evolução da paisagem.…”

“…Os alinhamentos da planície retrobarreira de Campos Verdes, considerados por Giannini (1993) "cordões lagunares" de gênese similar aos cordões de costa aberta, também se incluem na categoria de "cordões litorâneos" (beach ridge), sensu Hesp (1984Hesp ( , 1999 e Hesp et al (2005), que restringe o termo às formas geradas por ondas (em contraposição aos foredune ridges), e inclui entre elas aquelas "relacionadas à variação do nível médio das águas de lagunas e estuários" (Hesp et al 2005), ainda que esta variação não seja imprescindível para explicar sua gênese. A origem subaquosa dos cordões de Campos Verdes foi aqui admitida em vista de ausência, nos dados de GPR e de campo, de qualquer indício de deposição eólica na forma de dunas frontais (Tanaka et al 2009a). Nas trincheiras e exposições, as estruturas sedimentares são raramente preservadas, mas, quando identificadas, correspondem a estratificações plano-paralelas incipientes, que podem ser atribuídas a espraiamento de ondas.…”

“…F) Cordões, com intercordão no centro da foto, em vista para sul (rumo Morro do Mar Grosso, ao fundo). Modificado de Tanaka et al (2009a). por truncamentos entre feixes de cordões ou falésias soterradas.…”

“…Essa diferença pode ser explicada devido ao menor retrabalhamento dessa porção da planície. De acordo com o modelo de evolução de Campos Verdes (Giannini 1993, Tanaka 2007, Tanaka et al 2009a, o pontal corresponderia ao início da fase de compartimentação de uma extensa e alongada laguna inicial, para pequenas lagunas equidimensionais e semi-circulares, assim como nos modelos de circulação lagunar de Zenkovitch (1971 …”

“…Nestas condições, o fluxo de enchente ocorreria preferencialmente pelo canal do Camacho, com descarga (fluxo vazante) de águas e sedimentos por Entrada da Barra. Dado o controle do crescimento da planície de Campos Verdes pela entrada de sedimentos via desembocadura de Entrada da Barra, conforme demonstrado pela progradação rumo norte (Tanaka et al 2009a), a perda de sedimentos por vazante nesta desembocadura desfavorece a progradação em Campos Verdes.…”