A percepção dos idosos sobre o saber biomédico no cuidado à velhice e às "coisas da idade"

Abstract

O saber biomédico tem influência sobre as práticas objetivas e subjetivas das pessoas em relação ao corpo, à saúde e à vida. Diante do contexto de envelhecimento populacional, a pesquisa de cunho antropológico objetiva compreender como os elementos do saber biomédico influenciam a percepção do processo saúde-doença-envelhecimento entre idosos residentes na comunidade de Bambuí, Minas Gerais. O estudo incluiu 57 idosos (27 homens e 30 mulheres) com idades entre 62 e 96 anos. O modelo dos signos, significados e ações guiou a coleta e análise dos dados, permitindo a sistematização dos elementos do contexto que participam da construção de maneiras típicas de pensar e agir dos entrevistados diante do envelhecimento. Os resultados demonstram que o conhecimento médico-científico apropriado pela cultura local influencia os modos de pensar e agir dos idosos investigados. Foram identificadas como categorias analíticas de significados: a valorização da biomedicina, a culpabilização dos indivíduos, a naturalização das doenças na velhice e os recursos e ações utilizados pelos idosos. Os participantes reproduzem a visão biomédica que associa as doenças e limitações à idade, responsabilizam os próprios idosos pela atual condição de saúde e ainda recomendam repouso e resignação diante da velhice-doença vivida com incapacidade.

O cuidado cotidiano na perspectiva de idosos independentes e de seus familiares mais próximos

“…Assim, é importante evitar a utilização de atitudes e falas infantilizadas na relação com idoso. Pelo contrário, este deve ser percebido como capaz de cuidar de si, apesar de algumas limitações inerentes à idade (17,18).…”

“…A relação não pode ser opressora e, desde que não represente risco à integridade do idoso, o suporte deve ser sempre no sentido de apoiá-lo em seus desejos e decisões (11). Ressalta-se que a pessoa que chega à terceira idade com independência cognitiva, emocional e funcional, certamente pode ser considerada saudável (18)(19)(20).…”

The perception of the elderly about suffering related to frailty

“…At the same time the ideology of "do it yourself" relieves the family, the state and society from the responsibility of providing favorable conditions for care and protection in old age 23 . The blame for the disease, from a normative perspective, characterizes in part the biomedical approach -which seeks to provide a form of care and treatment, but can become a type of violence and coercion, which is also evident from the research of Moraes et al 24 .…”

“…They speak of a world of their own, the experiential world, which constitutes an anthropological reality -historical, social, psychic, of the elderly human being. If the frailty phenotype proposed by Fried et al 2 was used as a reference, the elderly emphasized only two of the five proposed criteria: the aspects of mobility and loss of energy -which is translated as "lack of enthusiasm", as in these excerpts: The marking of the passage of time corresponds to a "natural" process of becoming frail that is confused with old age, which is almost always associated with illness and debilitation, ideas that are part of the Western historical imaginary 23,24 . Although it is accepted that there are "elderly diseases ", when they describe their difficulty in understanding why certain diseases do not have medical treatment, a lack of pharmacological and biomedical resources is used to as an explanation to solve the experience of sickness and sadness of old people.…”

“…Moraes et al 24 confirm that the elderly perceive biomedical knowledge to be lacking, seeing it as a knowledge that doctors prescribe but which does not value the experience of the person. It does not provide true care, therefore, because it does not account for the suffering that goes beyond the diagnoses and treatment protocols, as well as naturalizing illness as being synonymous with old age.…”