Quer-se compreender como se deu o arcabouço da construção de imaginário político e social do país atual a partir da telenovela brasileira. A proposta é contribuir com um olhar histórico para os Estudos Culturais, tendo como base uma análise crítica da modernidade. Palavras-chave Telenovela. Televisão. Narrativa ficcional. 1) País em três atos A televisão matou a janela. Nelson Rodrigues Na novela Por amor, de Manoel Carlos, que foi ao ar entre 1997 e 1998, Marcelo (Fabio Assunção) queria muito ter um filho homem. Seu machismo era escancarado no textochamado pela crítica como uma crônica urbana contemporânea 3 e recebido com naturalidade pelos espectadores. Atílio (Antônio Fagundes) flertava com várias mulheres. Esse hábito só seria interrompido pela paixão por Helena (Regina Duarte). Reprisada no Canal Viva em 2019, a novela, anteriormente um recorde de audiência, gerou reações nas redes sociais e críticas sobre valores sociais tratados pela narrativa ficcional. Em pouco mais de vinte anos, a narrativa que antes era aclamada pelos espectadores agora seria alvo de reações adversas. Afinal, o que mudou? 1 Este artigo é parte modificada de um dos capítulos do livro "O que as telenovelas exibem enquanto o mundo se transforma", resultado de uma dissertação de Mestrado em Comunicação, sob orientação da profª. drª. Tatiana Siciliano (PUC-Rio) 2 Doutorando em Comunicação pela PUC-RJ, mestre também pela PUC-RJ e graduado em Jornalismo pela UFRJ. Autor dos livros "O que as telenovelas exibem enquanto o mundo se transforma" (2019); "Diálogos para santos cegos-Contos na era fake news"' (2018) e "Eu Rio, Tu Urcas, Ele Sepetiba" (2015). Diretordo filme "30 Diasum carnaval entre a alegria e a desilusão", apresentado na Première Brasil do Festival do Rio 2019. 3 Termo comumente usado, por exemplo, em críticas como a de Bia Abramo, da Folha de SP, ler mais em .