ResumoEste estudo de caso de caráter exploratório e qualitativo busca investigar psicanaliticamente a experiência emocional de uma mulher em contexto de puerpério. O ciclo gravídico-puerperal, é definido como o período que vai da gestação até mais ou menos seis a oito semanas que sucede o parto. Esta fase é marcada, além das alterações físicas, por alterações emocionais significativas na vida da mulher, exigindo recursos psíquicos específicos. Existe uma tradição no senso comum de naturalizar esse período e conferir a ele um caráter instintivo como uma vocação para o cuidar; o modelo científico atual, por outro lado, tende a objetificar essa questão sob o ponto de vista orgânico, excluindo o sujeito na tentativa de universalizar os sintomas. Perdem-se então os contornos singulares da vivência nesse período marcado por tantas mudanças. A experiência de um estágio supervisionado específico com ênfase em processos clínicos numa instituição beneficente localizada em uma cidade do interior de São Paulo, onde mulheres no contexto do puerpério são acolhidas e seus dramas são ouvidos, abriu espaço para o desenvolvimento do Trabalho de Graduação em Psicologia do autor e também deste artigo. Concomitantemente às atividades do estágio, são realizados no período de dois meses, três encontros com a participante, que frequentava a instituição. No primeiro encontro aplica-se um questionário sociodemográfico, no segundo faz-se uso do Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema e por fim realiza-se uma entrevista semiestruturada com o objetivo de identificar, por meio da narrativa dessa mãe, o sentido conferido ao puerpério. Pelo uso do método psicanalítico conforme empregado por Fabio Herrmann, elabora-se uma estratégia de investigação do fenômeno da maternidade a partir do reconhecimento de que todas as condutas humanas são dotadas de sentido emocional. Produz-se em seguida, pela apreensão dos determinantes lógico-emocionais das narrativas, três campos de sentido afetivoemocional: "Filha livre, mas perdida", "Maternidade: Um erro e uma aprendizagem?" e "Mãe de menina", que permitem a realização de uma produção interpretativa. Percebe-se por meio das reflexões de sentido produzidas por essa mãe, articuladas à psicanálise de Freud, que sua ação psíquica se orienta na tentativa de resolver o conflito: como ser livre, ser feliz e ser mãe ao mesmo tempo? Sua identificação com os pais idealizados regressa ao ideal narcísico do ego, que se manifesta pelas suas condutas e narrativas e ao mesmo tempo busca dar sentido e solucionar o conflito por meio de seus sintomas, reeditando e atualizando suas próprias vivências infantis. A presente pesquisa retrata a complexidade do universo materno e abre a possibilidade para realização de novos estudos que ultrapassem o puerpério e/ou considerem outros contextos de tipo de parto, como o humanizado, por exemplo, além do aprofundamento em relação ao quadro de vulnerabilidade social.