Escrita acadêmica é mais do que um passo de cada vez, tem que esvaziar a cabeça Recentemente, me deparei com um texto de Duncan J. Watts cujo título enigmático me chamou a atenção: Five Feet at a Time (Watts, 2022). Mais do que a curiosidade pelo título, a relevância que a obra do autor teve no desenvolvimento da minha trajetória acadêmica com a sua ideia de mundos pequenos (Watts, 2004), que impactou diretamente o teor da minha dissertação de mestrado (Rossoni, 2006) e de alguns dos meus primeiros textos (ex. Rossoni & Guarido Filho, 2009), fez com que eu o lesse. Foi um texto que me tocou. Tanto que o incorporei como fonte para redigir esse editorial. Não sei se devido as consequências da pandemia no cotidiano do meu trabalho ou por causa do momento pessoal que vivo, cujas escolhas entre família, trabalho remunerado e pesquisa acadêmica vêm me afligindo.Fato é que a analogia que o autor usa do trabalho acadêmico com o ato de se escalar uma montanha, destacando as dificuldades e o desânimo no processo, me causaram o desconforto necessário para rever meu processo de trabalho, não somente intelectual, mas como um topo.Nos momentos de desânimo, o autor sugere que se deve subir "cinco pés de cada vez" (rememorando o alpinista Royal Robbins), que em português brasileiro soaria como "um passo de cada vez". Juntamente com tal dica, ele aponta no texto outras quatro a respeito da escrita acadêmica, que reproduzimos neste editorial (Watts, 2022): 1) Simplesmente escreva; 2) Corte o texto sem dó; 3) Crie blocos de ideias; 4) Busque a opinião dos outros; 5) Dê um passo de cada vez. No entanto, além de incorporar a minha própria interpretação de cada uma delas, adiciono uma sexta: esvazie a sua cabeça.Essa última dica talvez tenha um apelo maior para o típico professor brasileiro que atua na pós-graduação. Como um professor bombril (Alcadipani, 2005), um "pau pra toda obra", precisa lidar com múltiplas atividades, tais como funções administrativas e executivas, docência, execução de projetos, ler, estudar, pesquisar e publicar, sem contar na recorrente necessidade de complementar a renda. Mas antes de detalhar tal dica, como disse, resgato as originalmente oferecidas por Watts (2022).