A Gestão Autônoma da Medicação em Centros de Atenção Psicossocial de Curitiba (PR)

Abstract

RESUMO No contexto do ‘recovery’ surgiu, em 1993, a Gestão Autônoma da Medicação, uma estratégia que visa garantir, aos usuários de psicotrópicos, participação nas decisões relativas aos seus tratamentos, via diálogo e troca de informações entre os envolvidos nos tratamentos em saúde mental com trabalhos nacionais, que demonstram esses efeitos. O objetivo do presente estudo foi fomentar e avaliar qualitativamente a realização da estratégia Gestão Autônoma da Medicação nos Centros de Atenção Psicossocial de Curitiba (PR). Foi feita uma pesquisa qualitativa, com implantação de grupos Gestão Autônoma da Medicação e de entrevistas semiestruturadas. Participaram usuários, trabalhadores dos Centros de Atenção Psicossocial e estudantes de medicina, totalizando 18 entrevistados. O material foi transcrito integralmente e as percepções dos participantes foram avaliadas baseando-se na hermenêutica gadameriana, extraindo-se, assim, núcleos argumentais, os quais foram agrupados em categorias e analisados posteriormente. Demonstrou-se que o grupo Gestão Autônoma da Medicação auxiliou os usuários no processo de conhecimento e tomada de decisão sobre seus tratamentos, bem como no conhecimento dos seus direitos. A intervenção também se mostrou relevante para os profissionais e estudantes, reforçando conceitos como a importância de valorizar a fala, as experiências e a autonomia do usuário.

Medicalização, saúde mental e biopolítica: uma revisão integrativa

“…Tal questão se aproxima da dificuldade de realizar discussões sobre os medicamentos, tanto por parte dos usuários quanto entre os próprios profissionais 10,19 , já que os não médicos parecem não se apropriar tanto do tema. Isso colabora com a centralização das decisões na figura médica e a desvalorização da autonomia do usuário sobre o próprio processo de saúdedoença 18 .…”

“…A maioria dos artigos analisados trouxe a reforma psiquiátrica brasileira como marco legal e socio-histórico no que se refere a tratamento em saúde mental, desinstitucionalização e desconstrução das instituições de sequestro (como manicômios), criação e fortalecimento de outras práticas terapêuticas e outro olhar sobre a pessoa em sofrimento psíquico 17,22 . Contudo, percebem-se resquícios da lógica manicomial nas ações no campo da saúde mental ainda na atualidade, o que demonstra como há um longo caminho em direção à efetivação da Atenção Psicossocial (AP) 3,5,10,13,15,17,19,23 .…”

“…Nesse sentido, notou-se a resistência de alguns trabalhadores quanto a outras formas de lidar com os usuários e à dificuldade de estabelecer uma dinâmica horizontal em um contexto institucional cristalizado em uma hierarquização. Por isso, é preciso coletivizar a luta pela extinção da lógica manicomial, pois, de maneira individualizada, corre-se o risco de adoecer junto ao sistema que pretende mudar 19 . Ademais, reconhecem-se os limites de uma luta individualizada por meio do relato de um agente penitenciário no HCTP que, repetidas vezes, teve de ser afastado do trabalho devido à depressão.…”

“…Cabe ressaltar que, para que esse cuidado seja construído pelos profissionais da saúde a partir dos pilares da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial 19 , torna-se urgente desocupar "o lugar de quem tudo pode: poder curar, de saber mais do outro que ele mesmo, poder de entender a loucura, de ter respostas prontas; e de permitirse experimentar o lugar de estar junto no surto, na produção de sentido, no passeio, na festa, na dor" 26 .…”

Análise do consumo de psicofármacos por usuários da Atenção Primária à Saúde

“…Os profissionais devem se ocupar dos indivíduos, e não apenas da doença que os acomete 4 , levando em conta os determinantes sociais de saúde, uma vez que estes podem impactar negativamente a saúde mental das pessoas e comunidades 5 . Porém, mesmo com a implantação desse novo modelo de cuidado, a literatura evidencia a prevalência do uso de psicofármacos em detrimento de outras terapêuticas para o tratamento do sofrimento mental e dos TMs, fazendo com que haja cada vez mais usuários desses medicamentos 6 .…”