Este texto analisa a formação de professores, realizada no âmbito das políticas públicas decorrentes dos acordos MEC/USAID/UNESCO, no pós Segunda Guerra Mundial, que resultaram na criação dos Centros de Formação de Professores Primários, entre 1961 e 1983, no município de Catalão, Goiás. Estes cursos de formação, de orientação tecnicista na educação, foram iniciados no Governo Mauro Borges após o Golpe Militar de 1964, com o intuito de planejar, racionalizar os investimentos no setor educacional. Os acordos firmados tinham como elemento chave a formação de uma sociedade "massificada" através da democratização da educação, de bens e de consumo para o mercado. O material didático utilizado nesse processo de formação era elaborado por equipes de trabalho orientadas e vinculadas ao Programa Brasileiro-Americano para o Ensino Primário (PABAEE). As especificidades desta formação, em tempo integral, em regime de internato, se propunha a melhorar a produtividade e a qualidade do ensino do 1º grau e Normal. As principais fontes primárias, inéditas, utilizadas nesta pesquisa foram localizadas no arquivo do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação de Catalão (NEPEDUCA), da Universidade Federal de Goiás (UFG), Campus Catalão, onde pudemos ter acesso aos projetos para instalação dos Centros Experimentais de Formação de Professores, aos planos de cursos, planilhas, avaliações e textos produzidos pelos professores e bolsistas. A análise das referidas fontes evidenciaram conluio de interesses no período de internacionalização da economia brasileira, criando as condições materiais, técnicas e humanas para a execução dos acordos Brasil/USAID. A interpretação das fontes revelaram-nos que as teorias e metodologias usadas pelos Centro reproduzia uma orientação escolanovista, já ultrapassada nos Estados Unidos, mas que passa a ser usada durante a Ditadura Militar como mecanismo de controle social sem recorrer a violência explícita, pois aplicadas nas escolas, lócus de preservação e distribuição cultural. Os relatos dos bolsistas indicam que mudanças foram sutilmente introduzidas alterando seus valores, comportamentos e práticas pedagógicas, assim como sua percepção de escola, da cidade e das relações socioculturais e políticas engendradas entre as instâncias do poder constituído e a sociedade catalana. As representações construídas pelos bolsistas revelam que os conteúdos transmitidos foram assimilados e condicionaram sua percepção de mundo, de sociedade, e que para o bom funcionamento da cidade havia uma hierarquia entre poderes e posições sociais a ser respeitado, sem contestação e cabia ao indivíduo, agora identificado com os valores da pátria, assumir para si os encargos públicos antes atribuídos ao Estado.