Q ualquer análise que se proponha a compreender os processos políticos na Colômbia não deve se distanciar da existência de um conflito de longa duração nesse país. Suas raízes são domésticas, sob o pano de fundo das disputas entre os dois partidos nacionais, predominantes no século XIX, as quais, associadas a fatores de ordem social e econômica e ao contexto da Guerra Fria, constituíram o caldo sociopolítico para o surgimento das primeiras guerrilhas organizadas. No sentido mais estrito de sua definição, e em uma apropriação livre do conceito de Edward E. Azar, o conflito colombiano é um "protracted social conflict" (um conflito social prolongado) em que as percepções e motivações por trás do comportamento dos atores estatais e comunais são condicionadas por experiências, temores e um sistema de crenças de cada um dos grupos comunais. Em uma situação de interações limitadas ou proscritas, as piores motivações tendem a ser atribuídas ao outro lado. Há pouca possibilidade de falsificação, e a consequência são as recíprocas imagens negativas que perpetuam o antagonismo comunal e fortalecem o conflito social prolongado (Azar, 1990:15; tradução dos autores).Embora, para efeitos da temática deste artigo, não seja possível aceitar os termos de Azar para denominar o caso da Colômbia "conflito comunal" e, mais ainda, no caso das relações entre o Estado colombiano e