Ao longo de cinco décadas um forte consenso foi construído em torno do rastreamento mamográfico, baseado, em grande parte, na crença de que este não está associado a riscos e que apresenta benefício de grande magnitude na incidência, sobrevida e mortalidade por câncer de mama.O , considerado entre os três melhores estudos já feitos sobre o tema pela Colaboração Cochrane, o pan-canadense é um estudo observacional, que apresenta diversos problemas, como ausência de alocação aleatória da intervenção e possível inclusão de casos prevalentes no grupo controle.Os autores da carta afirmam ainda que a dificuldade de acesso aos serviços de saúde no Brasil representa um fator limitante para a aplicação dos resultados do ensaio canadense no país 4 . Todavia, como o rastreamento em si não resolve problemas de acesso à confirmação diagnóstica e ao tratamento, esses problemas quando existentes tenderiam a diminuir o efeito dessa intervenção na mortalidade e não aumentá-lo. Adicionalmente, a prevalência do câncer de mama no Brasil é geralmente menor quando comparada aos países onde os ensaios clínicos foram realizados, o que aumenta o número de falso-positivos e diminui o benefício real do rastreamento.A garantia de que o rastreamento mamográfico traga mais benefícios do que danos para a população brasileira passa tanto pela resolução dos problemas da sua qualidade, apontados na carta de Soares, quanto pela adequação da sua curta periodicidade, conforme apontado no estudo de Rodrigues et al. 1 . 4.