“…Enfim, seguindo em outra direção, proponho aqui considerar os produtos gerados na superfície linguística apenas como sinalizações dos dispositivos e estratégias cognitivas operadas pelos usuários de música, sejam eles autores de textos musicais-escritos ou sonoros-ou realizadores desses textos-performers e ouvintes em geral-, no nível pré-conceitual do nosso entendimento, o nível das ações "indizíveis" referido por Kramer. O empreendimento teórico musical sobre o qual desenvolvo este estudo surgiu no mesmo período de emergência da nova musicologia; trata-se de uma musicologia cognitiva enquanto ramo da musicologia sistemática que abriu, nos anos 1980, uma nova frente de produção teórica em Música. Contudo é necessário aqui distinguir a corrente teórica que subjaz o desenvolvimento teórico a que refiro, da densa literatura musical em estudos cognitivos, surgida nos anos 1980, seja esta no âm-bito da psicoacústica, da neurofisiologia, de teorias da percepção, teorias gerativas ou teorias conexionistas e computacionais das chamadas ciências cognitivas, que pode ser reunida num contexto teórico admitido como um "estruturalismo cognitivo" (McAdams y Bregman, 1979;Krumhansl y Shepard, 1979;Shepard, 1982;Deutsch, 1982;Krumhansl y Kessler, 1982;Lerdahl y Jackendoff, 1983;Terhardt, 1984;McAdams, 1984;Sloboda, 1985;Todd, 1985Todd, , 1991Krumhansl, 1985;Rosner y Meyer, 1986;Clarke, 1987;Bharucha, 1987;Deliège, 1987;Lerdahl, 1988;Zatorre, 1988;Leman, 1989Leman, , 1990Krumhansl, 1990;Bregman, 1990). O presente trabalho, ao invés, está apoiado no paradigma não representacionista das ciências cognitivas contemporâneas, uma ciência cognitiva "incorporada": a corrente enacionista.…”