A assistência ao parto por parteiras leigas: Uma revisão integrativa

Abstract

O presente artigo analisa as publicações sobre as parteiras tradicionais e suas práticas no período entre 1998 e 2018. Trata-se de uma revisão integrativa (RI) na base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO) por meio do descritor “parteira”. Foram selecionados quatorze artigos e organizados em duas categorias: a) categorização social e política das parteiras; b) práticas das parteiras leigas ou tradicionais na gestação, parto e puerpério. Os resultados indicaram uma discussão acerca do papel das parteiras na concepção tradicional do nascimento em meio a traços de desigualdade social que afetam o acesso a serviços de saúde de qualidade à gestante e ao bebê, principalmente nos contextos rurais. Os autores ainda destacam a necessidade da promoção de diálogo entre o sistema de saúde e as práticas populares das parteiras para a oferta de serviços sensíveis que valorizem a diversidade dos cuidados à saúde nas diversas culturas e territórios. Diante do reduzido número de referências recuperadas, há necessidade de ampliar a pesquisa em outros formatos de publicação para compreendermos a atividade das parteiras tradicionais em outros contextos de cuidado.

Um laboratório produzindo inovações em saúde na Amazônia: 10 anos do Laboratório de História, Política Pública e Saúde na Amazônia

“…O trabalho teve o objetivo de analisar a produção do cuidado junto às gestantes, puérperas e recém-nascidos no estado do Amazonas pela perspectiva das parteiras tradicionais, por meio de um estudo de caso de caráter qualitativo, realizado através de entrevistas com parteiras tradicionais em quatro oficinas ocorridas nos municípios de: Borba, Nova Olinda do Norte, Parintins e Tabatinga. A pesquisa gerou o artigo "A assistência ao parto por parteiras leigas: Uma revisão integrativa" (Sousa, Schweickardt, Ferla & Lima, 2022).…”

“…O termo "parteiras tradicionais" é também adotado por uma questão de reconhecimento e valorização dos saberes e práticas tradicionais que detêm e acumulam ao longo da vida, isto é, formação construída ativamente em ato (Brasil, 2010). No entanto, os conceitos são limitados para descrever tudo o que a parteira realiza, pois há muitas intersecções e imbricações quando se pensa nas redes vivas nos territórios (Sousa, Schweickardt, Ferla & Lima, 2022).…”

“…o Amazonas, as Parteiras Tradicionais têm papel relevante no cuidado às mulheres nas distintas fases da gestação (gravidez, parto, pós-parto e cuidados com o recém-nascido), sobretudo no interior do estado, onde o acesso aos serviços oficiais de saúde é difícil. O trabalho realizado requer experiência e conhecimento, que incluem rezas, orações, palavras de estímulo e acolhida, gestos, procedimentos e chás de plantas medicinais que são usados no contexto do parto Sousa, Schweickardt, Ferla & Lima, 2022). No entanto, essas práticas são inferiorizadas pela racionalidade vigente na comparação com o conhecimento da medicina ocidental, estabelecendo uma relação colonial de poder em relação às práticas tradicionais.…”

Transmasculinidades e o colapso no (cis)tema de saúde: dilemas emergentes no campo da saúde sexual e reprodutiva -barreiras, estratégias e transfobia obstétrica-

“…Nessa linha de pensamento, Rohden explica que o poder médico no âmbito da saúde sexual e reprodutiva abarca o controle físico, orgânico e psicológico, exercendo influência até mesmo sobre a moralidade do processo reprodutivo(ROHDEN, 2021).A assistência ao parto por profissionais não médicos tem sido recomendada pela Organização Mundial da Saúde com alto grau de evidência científica (WHO, 2018), uma vez que a assistência prestada por obstetrizes e parteiras tradicionais tende a ser menos intervencionista com menores índices de medicalização do parto e condutas mais acolhedoras e respeitosas. Além do mais, revisões bibliográficas relatam que o vínculo estabelecido entre parteiras com a pessoa parturiente tende a incentivar a autonomia durante o processo gravídico-puerperal, o que resulta em desfechos prazerosos em relação à experiência de parto e na melhoria dos indicadores de saúde materno-infantil(DE SOUSA, 2022).Além disso, a atuação dessas profissionais também é pauta relevante na luta pela humanização do nascimento.Segundo Narchi, Cruz e Gonçalves (2013), o trabalho desenvolvido por obstetrizes, enfermeiras obstetras e parteiras tradicionais configura a luta pela autonomia da pessoa gestante no processo de parir, o resgate pelo parto fisiológico e a diminuição das desigualdades sociais e raciais no campo da saúde sexual e reprodutiva, fatos que sugerem a necessidade dessas profissionais para a melhoria do cenário obstétrico brasileiro. A presença dessas profissionais no campo da SSR também põe em evidência, de acordo comZorzam (2023), a subversão ao poder da medicina e da igreja, principais entidades responsáveis pelo controle dos corpos e normatização das práticas sexuais e reprodutivas desde o século XVIII e XIX.A escolha feita por Carlos pelo parto no ambiente domiciliar, assistido por duas profissionais da enfermagem obstétrica, ilustra o que as evidências científicas mostram sobre os desfechos positivos relacionados ao parto nesse contexto.…”