O objetivo do artigo é discutir o lugar do ciúme no discurso amoroso de pessoas não monogâmicas negras. Para tal, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os fundadores do maior grupo de Facebook de não monogâmicos negros do Brasil. Ao investigar as tensões e estratégias mobilizadas por esses sujeitos, percebemos que eles classificam o ciúme como um dos maiores malefícios da “herança monogâmica”, que traz consigo a ideia de posse do outro. Assim sendo, partem do princípio de que o ciúme é construído, ou, mais precisamente, “inventado”. A análise do ciúme nesse contexto permite mostrar especificamente as negociações e as dinâmicas de interação estabelecidas em torno do arranjo não monogâmico de modo mais amplo, sendo a desnaturalização e a tentativa de “superação” de tal sentimento atitudes que legitimam o próprio arranjo afetivo-sexual em questão e a construção de uma identidade negra.