“…Em sua introdução ao número especial do periódico Cadernos de tradução dedicado a "poiéticas não europeias de tradução", Álvaro Faleiros (2019, p. 10-11) pensa a tradução como "a transformação que os diálogos entre mundos 1 , via tradução, compreendem, do que qualquer concepção estanque ou dialética de origem". Em um dos artigos que integra esse número, Leandro Bastos (2019) começa investigando o questionamento do sujeito iluminista, íntegro e autorreferente nas teorias de tradução -ao explorar autores de diferentes domínios disciplinares (sobretudo, filósofos e antropólogos) -e desemboca nas inter-relações entre a tradução e os conceitos de perspectivismo e de multinaturalismo do antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro (2017Castro ( [2002Castro ( ], 2018). Conforme verificamos nos trechos a seguir, a tradução não é uma passagem, uma transferência, uma transformação entre duas epistemologias (linguagem, representação), duas perspectivas, dois reflexos-refrações (Volóchinov, 2021(Volóchinov, [1929), a respeito de uma mesma ontologia, de um mesmo objeto, de um mesmo referente, de um mesmo mundo, mas a possibilidade de "multiplicar" (Viveiros de Castro, 2018, p. 231) e estabelecer ligações entre diferentes ontologias, objetos, referentes, mundos, com base em uma unidade epistemológica e espiritual comum:…”