A aterosclerose é o mecanismo patológico mais comum subjacente à doença arterial coronariana (DAC). Abrange tanto as síndromes coronárias agudas (SCA) quanto as síndromes coronárias crônicas (SCC). Tradicionalmente, o processo de formação de placa tem sido percebido como uma consequência do acúmulo de colesterol (particularmente a captação mediada por receptor sequestrador de lipoproteína de baixa densidade modificada), o qual leva ao crescimento contínuo de placa. O acúmulo na camada íntima subendotelial adicionalmente leva à estenose progressiva, ao fluxo sanguíneo reduzido e, eventualmente, à hipóxia tecidual. Em adição à isso, a oclusão espontânea de vasos trombóticos e os eventos embólicos podem constituir a via fisiopatológica comum para eventos cardiovasculares agudos maiores, a saber, infarto miocárdico (IM) e acidente vascular cerebral. 1 Embora John Hunter tenha sido pioneiro na teoria inflamatória em 1794, foi somente em 1994 que desfechos piores em pacientes com SCA foram associados a níveis mais altos de proteína C reativa (PCR), e foi sugerido que a inflamação da placa pudesse ser responsável pela fissuração da placa. Dessa maneira, a inflamação finalmente foi associada à aterosclerose e à trombose. Além disso, foi subsequentemente demonstrado que a interleucina (IL) 1β, uma citocina próinflamatória, facilita a proliferação de células progenitoras hematopoiéticas por meio do metabolismo de glicose e colesterol, promovendo assim armadilhas extracelulares dos neutrófilos na placa crescente. De fato, o IM é acompanhado pela infiltração dos neutrófilos, que é fundamental para a regulação da inflamação. 2 Atualmente, é comumente aceito que o ateroma é o resultado de um processo biológico dinâmico. Isto moderniza a visão antiga da placa como uma estrutura inerte de lipídios acumulados, substituindo-a pela visão de um centro vivo e turbulento de reações inflamatórias.Apesar das investigações experimentais e dos ensaios clínicos iniciais com corticosteróides e antioxidantes terem sido decepcionantes, recentes ensaios clínicos de referência têm comprovado a assim chamada hipótese inflamatória de maneira convincente. No ensaio CANTOS, 3 10.061 pacientes com IM e PCR de alta sensibilidade (PCRas) elevada foram randomizados para receber 50, 150 ou 300 mg de canakinumab (um anticorpo monoclonal humano direcionado a IL-1β) ou placebo. O desfecho primário (morte cardiovascular, IM ou acidente vascular cerebral) foi significativamente reduzido no grupo de 150 mg de canakinumab em comparação com placebo (3,86/100 vs. 4,50/100 pessoas-anos; p = 0,02), em paralelo com uma redução da PCR. De fato, os pacientes que tiveram reduções maiores da PCRas obtiveram um benefício maior. 4 O ensaio COLCOT 5 incluiu 4.745 pacientes com IM recente (< 30 dias) e revascularização completa, os quais foram randomizados para uma baixa dose de colchicina (0,5 mg diariamente) ou placebo. O desfecho primário composto (morte cardiovascular, IM, acidente vascular cerebral, parada cardíaca ressuscitada ou hospitalização urgente devido a angin...