Política de Desenvolvimento, ambiente e saúde na Amazônia: uma análise da região do Tapajós | Development Policy, Environment and Health in the Amazon: an analysis of the Tapajós region

Abstract

A região do Tapajós passa por um processo de transformação desde 1928, que se intensificou com as políticas públicas de desenvolvimento. Esse processo foi marcado por diminutos benefícios sociais, transformação do ecossistema e agravos à saúde humana. No ano de 1996 foi estabelecida a política do Eixo Nacional de Integração e Desenvolvimento (ENID) com a logística do agronegócio nacional. Neste artigo são resgatados e analisados a política pública de desenvolvimento e seus efeitos no ambiente e na saúde humana. Realizou-se pesquisa bibliográfica histórico-política, incluindo documentos oficiais e observação direta. As políticas pretéritas geraram melhorias sociais e acirraram as tensões no ambiente, afetando a saúde. São experiências que demandam reflexões e devem ampliar o debate técnico sobre a saúde na Região, principalmente com os atuais efeitos da política do ENID.

A saúde na Amazônia Legal – Evolução recente e desafios em perspectiva comparada

“…Esta tendência pode estar associada ao maior fluxo de mão de obra sazonal masculina para a realização de atividades exploratórias na floresta (garimpo, extração de madeira, palmito etc. ), na implantação de grandes projetos de infraestrutura (tais como hidrelétricas e rodovias) e por causa da intensificação do transporte de produtos agrícolas ao longo de grandes eixos rodoviários e fluviais, portos e regiões fronteiriças (Couto 1999;Rocha 2008;Viana et al 2016;Castro et al 2019;Maciel et al 2019). Também é possível apontar, com o auxílio das entrevistas, outros fatores relacionados a estes fluxos, como a prostituição, violência de gênero, gravidez precoce e a ocorrência de doenças sexualmente transmissíveis.…”

“…Estes fatores são intensificados por deficiências na atenção básica (Maciel et al 2019). A maior incidência do câncer de colo de útero, agravo não letal caso exista o devido acompanhamento de atenção básica, na população residente nas regiões Norte e Nordeste do país, em comparação às demais regiões, também é um ponto de atenção (Girianelli et al 2014).…”

“…Como documentam os estudos, nota-se um cenário onde coexistem desde centros urbanos com maior densidade populacional, como é o caso das capitais e regiões metropolitanas, até áreas mais isoladas e menos adensadas. Essa diversidade se traduz também em desigualdades quanto ao acesso a políticas de saúde (Oliveira 2008;Viana et al 2007;Castro et al 2019;Garnelo 2019;Maciel et al 2019). Em especial, as condições de saúde das comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas são afetadas pelas transformações socioambientais observadas na 10 Amazônia Legal ao longo das últimas décadas (Oliveira 2008;Viana et al 2007;Castro et al 2019;Garnelo 2019;Maciel et al 2019).…”

“…A escassez de médicos em determinadas regiões do país e a dificuldade de fixação destes profissionais são temas amplamente discutidos pela literatura Garnelo et al 2017;Scheffer 2020). Costa et al (2019) As menções dos entrevistados atuantes na gestão das políticas de saúde na Amazônia Legal (em nível local e estadual) reforçam os resultados observados na análise quantitativa. Além das desigualdades regionais (entre Amazônia Legal e o restante do país), os médicos da região preferem se fixar em cidades maiores, devido à melhor oferta de serviços e infraestrutura, como é o caso das capitais.…”

“…Deficiências na atenção básica (em especial, a falta de ações preventivas) também são aspectos destacados na literatura sobre o tema na região (Maciel et al 2019). Ainda no âmbito das DSTs e das deficiências da atenção básica, a maior incidência do câncer de colo de útero na população residente nas regiões Norte e Nordeste do país em comparação às demais também é um ponto de atenção (Girianelli et al 2014).…”