Divisão sexual do trabalho, classe e pandemia: novas percepções?

Abstract

Resumo O objetivo do artigo é analisar como as mulheres lidaram com o período de isolamento social, sem suas tradicionais redes de apoio no processo de conciliação entre “casa” e “trabalho”: trabalho doméstico remunerado, creches e escolas, arranjos familiares. Através de entrevistas semiestruturadas com mulheres pertencentes às classes médias, percebem-se poucas alterações nas dinâmicas da divisão sexual do trabalho, aumentando a sobrecarga e, consequentemente, as desigualdades vivenciadas no período. Observa-se que, a partir dessa experiência, as instituições educacionais tomam um lugar privilegiado na percepção dessas mulheres, contrapondo com uma visão menos valorativa do trabalho doméstico remunerado. Para além disso, o Estado aparece diretamente conectado com a percepção de “caos” em suas vidas, trazendo novos pontos de compreensão sobre políticas públicas voltadas ao cuidado e ao âmbito doméstico.

Another Turn of the Screw The COVID-19 Crisis and the Reinforced Separation of Capital and Care

“…In stark opposition to what Monticelli found when analysing a similar scenario in Brazil, the changes the lockdown measures brought with them did not lead my interviewees to alter their perception about public policies or state participation regarding care (Monticelli 2021). In their view, care is not a public issue: it is rather the responsibility of each family to satisfy their necessities the best they can with the resources they have available.…”

Distribuição e socialização dos riscos do desemprego no Brasil: Estado, mercado de trabalho e esfera familiar

“…Já na "limpeza do dia de sábado, eu ajudo ela [a esposa]". Além de as parentes do sexo feminino arcarem com as atividades mais pesadas e desgastantes, uma tendência conhecida nos arranjos contemporâneos de divisão sexual do trabalho(Monticelli, 2021), a "ajuda" revela que a responsabilidade do trabalho reprodutivo recai, de fato, sobre as mulheres. A Interlocutora 33 complementa esse quadro, ao contar que, na sua casa, "vai faxineira uma vez na semana e os outros dias minha mãe faz comida [...] [a mãe] lava os pratos de manhã, eu lavo de noite, e meu irmão sempre foi tarefa besta, de encher a água e tirar o lixo".A terceirização do trabalho reprodutivo, nos casos em que "a gente tem uma diarista" (Interlocutor 32), foi recorrente.…”