A globalização periférica e a ressignificação dos lugares

Abstract

Resumo Neste artigo, buscamos analisar as novas configurações do trabalho decorrentes dos processos de reestruturação industrial e da inserção de novos territórios à lógica da produção capitalista global. Discutimos processos de reespacialização de setores industriais favorecidos pela guerra fiscal entre governos estaduais e municipais e sua ressignificação em locais sem tradição industrial ou de trabalho organizado. As redes de terceirização incorporam territórios antes vinculados a atividades agrícolas tradicionais, ou estagnadas economicamente, que fornecem mão de obra barata e escolarizada. Nosso argumento é o de que essas situações permitem entender a incorporação econômica de regiões periféricas dentro do país num quadro de expansão de mercados globais, impactando nas relações sociais vigentes. O local se integra ao global de formas distintas, mas complementares e heterogêneas, hibridizando formas de trabalho e ocupação dentro da lógica da acumulação. Temos como recorte empírico três setores produtivos distribuídos em sub-regiões do Nordeste, que são representativos das distintas formas de trabalho utilizado e o lugar se constitui numa variável relevante: o setor de confecções, o da produção de software e o da indústria automotiva, todos profundamente integrados em cadeias globais de valor. Esses setores caracterizam a integração da região aos fluxos globais, nos quais múltiplas globalizações se interlaçam.

Migrações internacionais qualificadas

“…Essa proposta envolve, portanto, um diálogo fundamentalmente multidisciplinar como base para a compreensão e análise das migrações internacionais. O Brasil, compondo o grupo de países do Sul global (ONU, 2012;MELDE et al, 2014;BAENINGER, 2018b) e inserindo-se enquanto periférico nessa dinâmica econômica internacional (WISE;NIELL, 2020;LIMA, 2020b;BASSO, 2003) no século XXI, também é rota de circulação internacional das migrações (BAENINGER, 2012) em suas mais diversas temporalidades (ROBERTSON, 2014), espacialidades (KOSER; SALT, 1997), sentidos (SOLIMANO, 2006) e composições , o que envolve, também, os fluxos de profissionais altamente qualificados (PEIXOTO, 1999).…”

“…A tese finaliza com o Capítulo 5, "Circuitos transnacionais das migrações qualificadas no Brasil", o qual apresenta a inserção laboral de imigrantes qualificados no no país e sua estrutura sócio-ocupacional hierarquizada (SASSEN, 2010;PEIXOTO, 1998), na qual os canais da migração (FINDLAY, GARRICK, 1990) respondem aos diferenciais de acesso para grupos de imigrantes qualificados no país. Consideram-se as transformações econômicas observadas no mercado de trabalho brasileiro (ANTUNES, 2010;LIMA, 2020b;BIAVASCHI;TEIXEIRA, 2020), bem como, a inserção periférica do país (WISE; NIELL, 2020; LIMA, 2020b) nos circuitos transnacionais do trabalho qualificado (ROBINSON, 2011) e nas cadeias de valor globais (LEITE; SALAS, 2020). Esse capítulo baseia-se em informações acerca do perfil sociodemográfico, ocupacional e setorial dos vínculos de trabalho formal do total de imigrantes e de imigrantes trabalhadores do conhecimento sistematizadas a partir da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS/Ministério da Economia/Secretaria de Trabalho), nas entrevistas qualitativas e nos resultados obtidos a partir de 65 questionários aplicados com imigrantes internacionais altamente qualificados.…”

“…Esse olhar dos estudos migratórios, em diferentes campos das ciências, para os movimentos populacionais envolvendo o Sul global, de forma mais ampla, e a América Latina e o Brasil de forma particular; no entanto, envolve idas e vindas importantes que dialogam diretamente com processos econômicos, políticos, sociais e demográficos próprios à região (SINGER, 1976;MELLO, 1997;HIRANO, 1998;POCHMANN, 2000;TAVARES, 2002;SOLIMANO, 2003;PATARRA, 2005;ROBINSON, 2008;WISE, 2014;CERVO;BUENO, 2015;CEPAL, 2020;LIMA, 2020a;2020b;BIAVASCHI;TEIXEIRA, 2020;SALAS, 2020).…”

“…necessariamente, com a nacionalidade dos trabalhadores imigrantes que nelas atuam. A relação país de origem da empresa e nacionalidade dos trabalhadores encontra-se permeada por diferentes elementos estruturados no bojo do mercado de trabalho global e na divisão internacional do trabalho(LIMA, 2020b). Como descreve a Entrevistada Empresarial I No que diz respeito ao amparo legal utilizado como base para a concessão da autorização de trabalho/residência para fins laborais dos imigrantes trabalhadores do conhecimento, portanto, é possível ressaltar algumas especificidades, particularmente, quando essas informações são descritas segundo regiões do mundo de origem.As autorizações são concedidas mediante cumprimento de normativas específicas, discriminadas segundo resoluções normativas, tanto no Estatuto do Estrangeiro de 1980, como na Lei de Migração de 2017.…”