Ver artigo relacionado na página 445I mportantes avanços foram feitos nos últimos anos na identificação de novos fatores relacionados a maior risco ou probabilidade de desenvolver doença aterosclerótica coronariana. Além dos fatores de risco tradicionais, recentemente agregamos informações sobre marcadores inflamatórios, como a proteína C-reativa, e marcadores de lesão miocárdica, como as troponinas, e também de alteração hemodinâmica, como o peptídeo atrial natriurético (BNP). Cada um, dentro de um contexto, tem demonstrado ser útil ao fornecer informações prognósticas e guiar condutas terapêuticas. Por outro lado, ainda estamos muito distantes do cenário ideal. Não conseguimos demonstrar que os imunossupressores podem reduzir a doença aterosclerótica ou mesmo usar marcadores existentes para identificar precocemente casos com doença subclínica, silenciosa ou com risco iminente de instabilização. Precisamos aprofundar o entendimento pleno da fisiopatogenia da doença arterial coronariana (DAC), suas causas e fatores de risco.Nesse sentido, é importante o estudo de Ghem et al. 1 , publicado neste fascículo da Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva, sobre o valor de um novo preditor como agravante da DAC. A bilirrubina vem sendo considerada na patogênese da DAC, após estudos observacionais do início da década de 90 demonstrarem que níveis séricos de bilirrubina estavam inversamente relacionados com presença de DAC. Schwertner et al. 2 demonstraram, em uma amostra de 619 homens, que redução de 50% na bilirrubina total estava associada a aumento de 47% nas chances de DAC. Níveis elevados de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-colesterol) e sua modificação oxidativa têm sido relacionados com esse processo 3 . A bilirrubina, um antioxidante, parece prevenir a modificação do LDL e poderia proteger contra a aterogênese. Estudos em indivíduos normais e com doença aterosclerótica demonstraram relação inversa entre níveis de bilirrubina sérica, dentro de níveis de normalidade, com disfunção endotelial e espessamento da camada íntima-média carotídea 4 . Além da ação antioxidante, a bilirrubina tem sido relacionada com inibição da expressão de moléculas de adesão e proliferação celular 5 . Por outro lado, apesar desses achados, outros autores não conseguiram identificar essa relação entre bilirrubina e níveis de ferro com doença aterosclerótica 6 .No estudo de Ghem et al. 1 , 81 pacientes com DAC foram analisados e os níveis séricos de bilirrubina foram avaliados e relacionados com a carga aterosclerótica em artérias coronárias, por meio do escore validado de Humphries. Os resultados demonstraram ausência de associação entre níveis séricos de bilirrubina e gravidade da doença coronariana. Diante desses achados, é oportuno discutirmos se existem realmente evidências de que a bilirrubina possa estar relacionada de modo independente com a gênese da doença aterosclerótica ou as evidências ainda são fracas, com potenciais vieses que turvam uma análise adequada. Nesse sentido, cabem algumas considerações metodológ...