N esta edição, os leitores da Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva -RBCI (muito mais apropriado seria se chamada de Cardiologia Intervencionista, afinal não invadimos nada, apenas executamos procedimentos diagnósticos e terapêuticos intravasculares com suficiente delicadeza e maestria para afastar qualquer idéia da violência que o termo invasão pode conotar!) são brindados com oportuno artigo de revisão e atualização em metodologia dos sistemas manométricos utilizados em estudos hemodinâmicos que empregam cateterismo cardiovascular 1 .Seus autores, conhecidos por diversas contribuições no campo dos estudos de Hemodinâmica e Fisiologia Cardiovascular em modelos de animais de experimentação, revisaram, meticulosamente, não só os mais elementares, mas também alguns dos mais complexos aspectos envolvidos na mensuração das pressões intravasculares e intracardíacas, com base em técnicas de cateterismo cardiovascular.Com certeza, a leitura desse artigo será útil a muitos hemodinamicistas e intervencionistas com formação recente, talvez carentes de adequada visão crítica e de tirocínio com esses métodos. Mas também servirá para o resgate, provavelmente com certo tino saudosista, da visão dos hemodinamicistas clássicos (da época em que não se caracterizavam como intervencionistas), de que a medida adequada das pressões circulatórias com métodos intravasculares constituía, em si, finalidade essencial de todo estudo hemodinâmico. Porquanto, em realidade, essas medidas formaram, nos primórdios da atividade dos hemodinamicistas, o núcleo mais primário de sua atuação. Isso era particularmente relevante para o estudo das cardiopatias congênitas e das valvulopatias adquiridas, conjuntamente com as determinações oximétricas e os métodos, baseados nos princípios de Fick e de Stewart, de diluição de indicadores. Ao lado das estimativas de fluxo assim produzidas, os valores de pressões intracardíacas, e nos segmentos venosos e arteriais das circulações sistêmica e pulmonar, propiciavam a base fundamental para os cál-culos das resistências vasculares, dos orifícios valvares, e da dinâmica funcional miocárdica biventricular.Inegavelmente, hoje, a manometria intravascular está desprovida da relevância que lhe conferiam as antigas abordagens hemodinâmicas. Aliás, o próprio sentido de nossa vertente hemodinamicista tem sido relegado a plano secundário, e não há exagero na suposição de que os ecocardiografistas atualmente realizem talvez mais atividades hemodinâmicas que os intervencionistas. Afinal, são eles que, com o princípio de Doppler (epônimo que não deveria jamais ser banalizado na infelizmente muito usada expressão "dopplerecocardiografia"!), atualmente estimam gradientes de pressão, derivam cálculos de áreas valvares, e estimam velocidades de fluxo, baseados em sua "não-invasiva" abordagem.Essa tendência a se menosprezar a atividade hemodinâmica propriamente dita, pelos intervencionistas, resulta de dois fatores predominantes. O primeiro deles, instalado há mais de três décadas, foi a progressiva e virtualmente avassalado...