Questões de gênero são tipicamente negligenciadas na formação de professores de Ciências. Este artigo apresenta uma investigação narrativa, inspirada nos retratos sociológicos, da história de vida de Natália Flores, uma professora em formação inicial que resistiu às reprovações e à pressão por excelência que desafiam a maioria dos estudantes de Ciências. A partir de entrevistas individuais, e com base na distinção entre conhecimento conectado e separado, proposto por teorias feministas, é possível situar a constituição da identidade profissional de Natália no conflito normativo entre ser mulher e viver no Instituto de Física de uma Universidade Federal. Com uma infância marcada por relações de intimidade e sensibilidade, Natália desenvolveu o que chamamos de disposição à conexão. Por meio dessa disposição, suas escolhas e dilemas podem ser interpretados como questões de gênero. Em outras palavras, sua escolha pela Licenciatura em Física, a crise para adaptar-se ao curso, seu baixo senso de autoeficácia e o sentido que ela atribui a ser professora são experiências marcadas pela maneira como Natália aprendeu a ser mulher. Por outro lado, considerando aspectos de classe presentes na história de Natália, comuns também aos homens, esperamos que eles se identifiquem com algumas das experiências analisadas. Implicações para pensar a vida e a formação de professores nos Institutos de Física como uma questão de gênero são discutidas.