O artigo faz um paralelo entre o trabalho alienado na perspectiva marxista e a alienação mental. Para levantar hipóteses sobre essa correlação, considera-se a dupla utilidade da instituição psiquiátrica, de isolar e tratar pessoas que apresentem comportamento desviante. Permanece, não apenas na saúde, mas nas diversas políticas sociais, a compreensão do trabalho – em seu sentido estrito – como único meio de acesso a direitos, e do salário como única forma de manutenção da vida. Os programas de assistência social destinados a pessoas impedidas de trabalhar – crianças, idosos e pessoas com deficiência – são uma manifestação dessa centralidade, pois a única possibilidade apresentada a essas pessoas é de sobrevivência com valores monetários pífios. No entanto, as pessoas com transtorno mental não têm sequer esses direitos no âmbito da política de assistência social no Brasil, o que revela uma incompreensão quanto à natureza dos transtornos mentais ou uma compreensão de que eles são, na verdade, desvios morais ou simulações com o objetivo de manter as pessoas afastadas do trabalho. A inserção e a manutenção no mercado de trabalho são consideradas indicadores positivos no âmbito da saúde, sendo um determinante social de saúde ou um sinalizador de alta médica e ou psicossocial. Por outro lado, o trabalho é um dos elementos mais estressores da contemporaneidade e o ambiente de trabalho é um dos mais propícios ao desenvolvimento de transtornos mentais. Este artigo dedica-se à tentativa de elucidar essas contradições, questionando em que medida a reforma psiquiátrica teria um potencial revolucionário diante dos desafios que emergem numa sociedade capitalista.