Hegemonias corporificadas: dilemas morais no adoecimento pelo câncer de próstata

Abstract

RESUMO Objetivo Interpretar o significado atribuído à experiência do homem sobre o seu corpo durante o adoecimento pelo câncer de próstata. Método Pesquisa etnográfica com homens norteada pelo método narrativo e pelos referenciais teóricos da antropologia médica e das masculinidades. As informações foram colhidas por meio de entrevistas gravadas, observação direta e registros em diário de campo, os quais foram analisados pela análise temática indutiva. Resultados Participaram da pesquisa 17 homens. Durante o adoecimento pelo câncer de próstata, os corpos masculinos foram regidos por experiências morais que influenciaram a maneira como os homens guiaram sua relação com a saúde e sua masculinidade multifacetada, defendendo preceitos culturais hegemônicos e dilemas morais de afirmação de sua identidade, os quais foram interpretados com o significado de corporeidade. Conclusão Durante o adoecimento, os homens vivenciam dilemas corporais, sociais e morais que ameaçam a masculinidade hegemônica. A compreensão destes pode auxiliar os profissionais a lidar com esta população.

Fatores associados í masculinidade no diagnóstico precoce do câncer de próstata: revisão narrativa

“…xuais (6,14,20) . Entre os padrões de masculinidade vigentes, há os mais valorizados e exaltados e outros mais subordinados (21) .…”

“…Identificar a produção de conhecimento na literatura da saúde sobre as masculinidades, no contexto dos sobreviventes do CAP e analisar as implicações desta relação para a manutenção dos cuidados de saúde. No modelo da masculinidade hegemônica, destacam-se como eixos estruturantes a dominação e a heterossexualidade (6)(7)(8)14,20) . Assim, as pessoas que seguem tais padrões aceitos de masculinidade são atestadas como homens e não são questionados pelos que compartilham os mesmos símbolos (7,8,21) .…”

“…Tal ideal foi construído historicamente com a imagem do homem como o responsável pela família, autor de decisões políticas, detentor de maior acesso ao conhecimento e até como modelo de perfeição representado na anatomia em obras de Da Vinci e Michelangelo, nas pinturas, esboços e esculturas. Desse modo, papéis atribuídos aos seres de sexo masculino ao longo dos anos contribuíram para formação do ideal de masculinidade que enaltece o homem como ser forte, viril e inviolável (2,13,14,16,17,19) .…”

“…Assim sendo, a partir dessa construção sociocultural de masculinidade, os homens que tentam segui-la acabam, muitas vezes, deixando a saúde como algo não prioritário. Tal fator pode ser exemplificado pelo medo dos homens se sentirem afeminados ao buscarem os serviços de saúde, visto que a busca pelo cuidado é algo considerado do público feminino, isso se justificaria pela socialização que as mulheres recebem, desde cedo, para reproduzirem e consolidarem os papéis que as tornam responsáveis, quase que exclusivamente, pela manutenção das relações sociais, comprometendo-se com o cuidado (2,3,14,19) . Outro ponto a ser discutido é a repulsa do público do sexo masculino em se exporem ao médico, justificando que mostrar parte do corpo ou ser tocado em um procedimento colocaria sua masculinidade em risco (6)(7)(8)(13)(14)(15)(16)(17) .…”

“…Ademais, considerar o homem como o responsável e mantedor financeiro da família contribui para ausência nos serviços de saúde visto que os horários da jornada de trabalho geralmente coincidem com os horários de atendimento, principalmente nas unidades de Atenção Primária a Saúde (APS) (13,14,(17)(18)(19) . Para o homem cuidar da sua saúde, o mesmo teria que se ausentar do seu serviço para tal ação, de modo que isso repercutiria na sua renda familiar, bem como em ônus para o setor em que desempenha a função, tornando-se difícil a sua busca por assistência à saúde (6,19) .…”