A partir de sua noção de res extensa, René Descartes pensa o corpo pela via de um intercâmbio essencial com os aparelhos mecânicos. A concepção de corpo como “coisa extensa” prescreve uma estreita afinidade entre o corpo e as máquinas, constituindo uma prerrogativa filosófica fundamental para a testagem de técnicas biomédicas de intervenção e saúde. Esse horizonte respondia contextualmente a uma solicitação moderna por uma nova postura ante a natureza (incluso o próprio corpo), circunscrita no âmbito do paradigma matemático-mecanicista. Em vista disso, analisamos a visão de Gilbert Simondon de “objetos técnicos”, que consideramos ser receptiva a Descartes e aberta a problematizações atuais ligadas à relação máquina-cultura.