“Sinto que estou sempre a falhar”: o dano existencial decorrente da hiperconexão do teletrabalhador docente

Abstract

Resumo O artigo tem como objeto analisar a hiperconexão causada pelo teletrabalho dos professores como hipótese de dano existencial. O trabalho docente presencial no período da pandemia causada pelo novo coronavírus foi substituído pelo ensino remoto emergencial (ERE) para inibir o contágio e, assim, contribuir para conter a crise sanitária de abrangência mundial e garantir o direito à educação de crianças, jovens e adultos. Dessa forma os professores tiveram, abruptamente, de se adaptar ao trabalho por meio de plataformas virtuais e aplicativos multiplataforma para smartphones. Essa mudança, somada ao contexto de aflição causado pela pandemia, pode ocasionar um dano existencial no docente devido à violação do direito à desconexão. Sob essa perspectiva, a pesquisa parte do problema: seria esse um dano de natureza individual ou coletiva? Assim, trazemos como hipótese: a mudança abrupta do ensino presencial para o remoto da forma como ocorreu configura dano existencial à categoria. Para tal propósito, esta investigação tem por objetivo geral: refletir, com base na mudança abrupta do ensino presencial para o remoto, de que forma a hiperconexão causada pelo trabalho virtual configura dano existencial aos professores. Para o desenvolvimento deste estudo teórico e de cunho exploratório, utiliza-se uma abordagem qualitativa, aliada a um procedimento de pesquisa bibliográfica. Enquanto referencial teórico, tomamos como base o conceito de sociedade do desempenho de Byung-Chul Han. A partir dos elementos que caracterizam o dano existencial, podemos inferir que o trabalho remoto dos docentes, em tais condições, pode concorrer para violação ao direito à desconexão e ao consequente dano existencial.

Jornada de trabalho e tempo livre do docente da educação básica da rede particular de ensino de Ribeirão Preto, SP e as novas formas de organização do trabalho

“…E o trabalho realizado na casa do docente trouxe outros gravames, como uma utilização maior de energia elétrica, conexão com a internet, somado à compra de equipamentos, que trouxeram mais custos ao trabalhador e, mesmo que esses custos possam ter sido compensados por outros, como a diminuição de gastos com combustível e alimentação fora de casa, muitos dos professores não puderam adequar satisfatoriamente seus ambientes, adquirir equipamentos melhores e suprir suas necessidades de formação, o que pode ter trazido frustração e angústia (Carneiro Júnior;Cardoso, 2023).…”

“…É notório que o ensino remoto emergencial trouxe novas imposições ao docente, que precisou reestruturar sua maneira de trabalhar, alterando seus métodos, didáticas, linguagem, meios de avaliar e suas formas de se relacionar com alunos, pais de alunos e gestores das escolas diante das tecnologias-informacionais-digitais e suas exigências (Carneiro Júnior;Cardoso, 2023). Esse processo ocorreu da noite para o dia, mas demandaria mais tempo de estudo e formação para lidar com as plataformas e os aplicativos utilizados.…”

“…É perceptível, portanto, que do ensino virtual remoto decorreu mais trabalho ao professor, já que o atendimento aos alunos, que se encontravam fragilizados e desconcentrados, além das horas a mais para preparação das aulas e sua adequação aos meios digitais , da exigência de gravação de aulas quando as aulas síncronas ainda não eram possíveis e a alimentação de plataformas digitais. Tudo isso demandou maior dedicação de tempo ao trabalho e, consequentemente, tempo à disposição do empregador e menor tempo de não-trabalho (Carneiro Júnior;Cardoso, 2023). 163 Controle similar tem sido feito cada vez mais pelas empresas no mundo.…”

“…trabalho prejudicando seu descanso e lazer. Além disso, não houve salvaguarda de uma mínima estrutura para o trabalho virtual pelos empregadores, mas houve exigência de qualidade do ensino remoto, afetando a saúde do professor durante esse período (Carneiro Júnior;Cardoso, 2023;Pinho et al, 2021).…”