A epistemologia de Poincaré à luz de Kant: convenções e o uso regulador da razão

Abstract

resumoAs reflexões metodológicas de Poincaré sobre a modelação mecânica dos fenômenos, as teorias físicas, a hierarquização das leis e a evolução do seu estatuto e sistema são susceptíveis de uma leitura kantiana que exibe a função constitutiva das matemáticas e a função reguladora dos princípios de conveniência e dos princípios da física, correspondendo estes a uma importante etapa na evolução das teorias físicas.Palavras-chave • Poincaré. Kant. Filosofia da física. Convenções cômodas. Princípios reguladores. Harmonia. Unidade sistemática. IntroduçãoO carácter convencional da geometria física, justificado pela intertradutibilidade das geometrias métricas que permitem a livre mobilidade dos corpos sólidos e por um holismo estratificado que permite ajustes entre geometria, óptica e mecânica e a associação entre a noção de verdade e a de comodidade estão entre as contribuições de Poincaré mais decisivas para a epistemologia. É comum assinalar-se como Poincaré se afasta de Kant, a convenção sendo uma alternativa ao empirismo e ao carácter impositivo, único e necessário, do sintético a priori. Poincaré era avesso a definições mas, usando os termos de Schlick, pode-se resumir a concepção afirmando que a posição convencionalista assume que por uma escolha conveniente é sempre possível obter, sob certas condições, uma designação não ambígua do real por meio do conceito (cf. Schlick, 1974(cf. Schlick, [1918 Brenner, 2004, p. 118). Esta percepção tem uma longa história que remonta aos positivistas lógicos que colocaram Poincaré no seu panteão e anunciaram a morte do a priori, na sequência do sucesso da relatividade geral de Einstein que tornou impossível justificar a prioridade da geometria euclidiana.O domínio das convenções é o da geometria física, da mecânica e das ciências físicas, insistindo Poincaré na pertinência da noção de sintético a priori na aritmética, na análise e no quadro das geometrias puras. O princípio da recorrência é basilar na scientiae zudia, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 49-72, 2015 49 http://dx

Poincaré and Duhem

“…20 Although the comparison given in this article is limited to the early 1890s, let us point out some factors of the progressive separation of Duhem and Poincaré. 21 In the following years, Poincaré frequented the neo-Kantian and republican milieu, becoming one of the collaborators of the Revue de métaphysique et de morale (a journal in which Duhem published only once, in 1916), see (Soulié 2009, 68, 222-225), (Príncipe 2015a(Príncipe et 2015b. It seems to me probable that Duhem's divergence from Poincaré's ideas, explicit in his later texts, is partly an effect of his rejection of neo-Kantianism, although Poincaré's interest in the progress of atomism may have played a more important role.…”