Neste artigo, discutimos, com base em Wright (1973), alguns pormenores que devem ser levados em consideração quando se busca falar em função dentro da biologia evolutiva. Tratamos, especificamente, de realizar uma acomodação da abordagem etiológica de função proposta pelo filósofo da biologia Larry Wright à tese do linguista Noam Chomsky e colaboradores acerca da natureza e da evolução da Faculdade da Linguagem (FL) na espécie humana, partindo do pressuposto de que a sua função natural não é a comunicação. Juntamente com Chomsky, defendemos que a comunicação deve ser mais apropriadamente compreendida como um subproduto, isto é, uma atividade/comportamento acidental relacionado à nossa FL, mas não sua função natural propriamente. Entendemos que a função da FL é primariamente interna à mente, e que a externalização de pensamento para fins de comunicação se deu posteriormente ao seu surgimento. Partindo de tal entendimento, o eixo da nossa argumentação está na ideia de que um evento no futuro não pode ter eficácia causal sobre um evento que o precede, de modo que parece inapropriada uma explicação funcional para a FL que a iguale com comunicação. A nossa discussão reforça o entendimento, segundo Chomsky, de que a função da FL é nos possibilitar, por um meio finito, infinitas combinações de símbolos estruturados hierarquicamente, sob a forma de o que Chomsky argumenta ser um sistema de pensamento sofisticado e único. Palavras-chave: Faculdade da Linguagem; evolução; função natural; externalização da linguagem; explicação causal; biolinguística.