ResumoO objetivo deste estudo é identificar a presença do estrangeirismo na ordem do discurso acadêmico brasileiro sobre as Normas Internacionais de Relato Financeiro (International Financial Reporting Standards -IFRS). Para tanto, 29 artigos acadêmicos de autores brasileiros sobre as IFRS são analisados, enfocando a representação do contexto contábil nacional em face a contextos estrangeiros. A análise emprega conceitos da teoria pós-colonial, tais como colonialidade e subalternidade, recorrendo à figura do complexo de vira-lata, termo criado pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues para designar um sentimento de autonegação e de valorização do que vem de fora, que seria característico dos brasileiros. As análises indicam uma alta pervasividade do estrangeirismo: em 13 dos 18 artigos nos quais são feitas descrições e comparações entre o contexto contábil brasileiro e contextos estrangeiros, o complexo de vira-lata se manifesta através de escolhas lexicais que caracterizam a adoção das IFRS como evidência de progresso, da descrição da tradição do direito civil (code law) como uma fraqueza, e da representação do sistema contábil brasileiro como inferior a estrangeiros baseada em modelos classificatórios desenvolvidos em países anglo-saxões. Dada a interligação entre o campo acadêmico e o campo profissional na contabilidade brasileira, tais resultados sugerem haver um elemento relevante de colonialidade na consolidação e legitimação das IFRS no Brasil.Palavras-Chave: Adoção das IFRS. Complexo de vira-lata. Estrangeirismo. Ordem do discurso. Pós-colonialismo.