A livre improvisação musical e a filosofia de Gilles Deleuze

Abstract

Nos últimos anos a improvisação passou a figurar como um tema cada vez mais presente nos ambientes acadêmicos e hoje é considerada uma importante linha de pesquisa. A nossa reflexão sobre a livre improvisação, além de se apoiar em nossas experiências práticas, tem como uma das suas principais referências a obra do filósofo francês Gilles Deleuze de quem são emprestados conceitos fundamentais tais como, estratificação, território, plano de consistência, molaridade e molecularidade, corpo sem órgãos, ritmo, meios e ritornelo. Neste artigo, originalmente publicado no número 49, vol. 1 da revista Perspectives of New Music, trataremos de mostrar de que forma estes conceitos nos auxiliam a pensar e fundamentar a livre improvisação musical conforme a concebemos em nossos trabalhos práticos e teóricos.

Comprovisação

“…A improvisação livre, como uma música que tenta afastar-se destas "regras" idiomáticas, apontaria para um não-idiomatismo. Costa (2013) percebe a concepção de não-idiomatismo a partir da dissolução idiomática, ou a permeabilidade dos idiomas, sendo que as fronteiras entre tais tornam-se inexistentes. Para o autor, portanto, a criação na improvisação livre se dá por meio da própria prática musical do performer, visto que este busca um afastamento de seus hábitos idiomáticos (musicais e instrumentais).…”

“…Suas ações são frutos da concentração envolvida e da imersão na performance, relacionadas à memória de curto prazo. Para este estado de prontidão, o improvisador se vale de algumas ferramentas: a escuta; modos de reagir ao material sonoro compartilhado; técnicas instrumentais estendidas; roteiros ou estratégias criativas (COSTA, 2016;COSTA et al, 2013;FALLEIROS, 2012;FALLEIROS, 2018;FURLANETE, 2014;GLOBOKAR, 1970).…”

“…Esta visão sobre o fluxo é utilizada, em vezes, para descrever o processo da improvisação livre. Como exemplo, Costa (2013) 2012). Há a busca por uma desvinculação de figuras que agenciam o processo criativo, como o compositor, o intérprete.…”

“…descreve que o fluxo sonoro da improvisação livre assemelha-se ao conceito de processo de individuação, de Gilbert Simondon, "em que os músicos pensados enquanto agentes complexos deste sistema interagem, delineando um fluxo sonoro em constante transformação"(COSTA, 2013, p. 44). A relação entre a concepção de individuação e a improvisação livre, ainda segundoCosta (2013), demonstra a compreensão da prática como uma sucessão de estados provisórios e transitórios em um plano de consistência sonora.corre sobre tais processos generativos na performance musical, percebendo dois níveis: o primeiro sendo a representação de uma estrutura musical e a provocação que esta gera no sistema motor; o segundo refere-se aos princípios generativos vinculados ao controle da expressividade em aspectos da performance. Compreenderemos, para esta análise, processos generativos na performance seguindo o que considera como o primeiro nível.…”