vol. 12 (2) | 2008Inclui dossiê "European Christianities at the turn of the millenium: ethnographic approaches" Paradoxos, fluidez e ambiguidade do pensamento simbólico (o caso ruwund): para uma crítica a alguns modelos de análise Paradox, fluidity and ambiguity of symbolic thought (the Ruwund case): a critique of some theoretical models Electronic reference Manuela Palmeirim, « Paradoxos, fluidez e ambiguidade do pensamento simbólico (o caso ruwund): para uma crítica a alguns modelos de análise », Etnográfica [Online], vol. 12 (2) | 2008, Online since 03 Etnográfica is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License. etnográfica novembro de 2008 12 (2): 353-368 Paradoxos, fluidez e ambiguidade do pensamento simbólico (o caso ruwund): para uma crítica a alguns modelos de análise 1
Manuela PalmeirimO conceito de "versões" ou "variantes" tem-se afirmado crucial na análise das tradições orais. Contudo, o uso das versões como textos "fechados" e "delimitáveis" conduz, quando falamos das tradições centro-africanas de fundação do Estado, à emergência de contradições desconcertantes e aparentemente irresolúveis. Os historiadores africanistas crêem-nas passíveis de serem questionadas quanto à sua veracidade; os estruturalistas reduzem-nas a oposições algo estáticas. Ambas as abordagens, tentaremos demonstrar, obscurecem a extrema riqueza, complexidade e, acima de tudo, a extraordinária ductilidade destas narrativas. A leitura que será apresentada da narrativa de fundação da realeza dos aruwund da República Democrática do Congo sugere o paradoxo, a ambiguidade e a fluidez como os mecanismos sobre os quais se constrói o pensamento simbólico e, desta forma, afasta-nos quer das abordagens históricas quer da fixidez dos modelos dicotómicos frequentemente utilizados na sua análise. PAlAvRAs-ChAvE: lunda (Aruwund), Congo (República Democrática do), ambi-