Uma análise de concepções sobre a criança e a inserção da infância no consumismo

Abstract

Este artigo faz uma análise de percepções e de concepções sobre o que é a criança e resgata a evolução do conceito de infância da antiguidade aos dias atuais, associando tais mudanças à dinâmica social pelo surgimento de novas estruturas familiares e de fatores históricos, sociais, políticos e culturais. São discutidos algumas particularidades da criança e seu processo de desenvolvimento cognitivo sob a luz da teoria de Piaget, considerando a infância inserida nas grandes sociedades de consumo capitalistas e analisando como ela interpreta as informações apresentadas pelo mercado através das propagandas e outros meios. Este artigo tem como objetivo contextualizar a evolução das percepções em relação à criança, evidenciando sua inserção crescente no mercado de consumo, peculiaridades inerentes à sua idade, sua relação e comunicação com os pais e como eles são significativos no desenvolvimento de sua autonomia e capacidade crítica. O consumo exagerado se afirma culturalmente e gera consequências na infância, frutos de um processo alienante que vem sendo construído pelo sistema capitalista e reproduzido pelas pessoas. Evidencia-se, então, a precocidade das relações que se processam no interior da sociedade.

Pausa Para Os Comerciais: Uma Análise Das Propagandas Veiculadas Em Canais Infantis

“…Além disso, apareciam sempre acompanhados dos pais, passando a ideia de dependência e fragilidade. No entanto, a modernidade representou significativos ganhos na importância dada a esse grupo, cuja educação e moral das crianças se tornavam centrais e a figura infantil muitas vezes era vista como casta e sagrada, refletindo a importância e respeito dado a ela (De Moura et al, 2013).…”

“…Apesar da crescente importância e valorização das crianças ao longo da história, na contemporaneidade a criança passou a ser vista de uma forma muito mais racional e até mesmo desvalorizada, justificada pelo grande número de relatos de abuso e escravização infantil (De Moura et al, 2013). É somente nas sociedades capitalistas modernas, então, que nasce a visão da criança como consumidora.…”

“…É somente nas sociedades capitalistas modernas, então, que nasce a visão da criança como consumidora. A criança é tratada como segmento de mercado não só pelo poder crescente como mercado primário, no qual já consome ativamente, mas como influenciadora e mercado futuro promissor (McNeal, 1992;De Moura et al, 2013;Agrawal & Gupta, 2016).…”

“…Expostos os conceitos básicos da Teoria de Piaget, constata-se que o autor concentra sua argumentação na interação direta entre quem está conhecendosujeitoe o que está sendo conhecidoobjeto (De Moura et al, 2013;Calvert, 2013), como um processo individual para a construção de conhecimento. Já para Vygotsky, essa interação entre as duas partes não ocorre somente na cabeça do sujeito, mas requer a mediação de um adulto para auxiliá-lo nas interpretações e entendimentos do mundo externo, sendo este um agente socializador da criança na sociedade (Goswami, 2008) que irá ensiná-lo a viver naquele ambiente, daí a importância da educação.…”

“…Se na Antiguidade a criança só era vista como indivíduo quando atingisse a idade adulta (De Moura et al, 2013), hoje a grande problemática que envolve profissionais de marketing, sociólogos, antropólogos, governos e instituições, é a "adultização da infância" por meio da inserção, cada vez mais cedo, da criança na cultura de consumo (Silveira Netto et al, 2010;Oliveira & Real, 2011;Rozendaal et al, 2011).…”