Implicações do pronto-atendimento psicológico de emergência aos que vivenciam perdas significativas

Abstract

A proposta deste trabalho consistiu em compartilhar um serviço de pronto-atendimento psicológico às pessoas que vivenciam uma perda significativa, seja por morte de uma pessoa de vinculação importante, como a de um familiar ou amigo, óbito de um paciente ou perda da saúde quando do adoecimento e/ou hospitalização, entre outros, e discutiu os resultados de tal serviço. O enfoque metodológico baseou-se na análise do processo de estruturação e implantação de um serviço dessa especificidade em um hospital público universitário, onde os autores desenvolvem a assistência aos que vivenciam esses processos de perda. Os resultados apontaram a importância da oferta desse serviço, que foi demandado tanto por aqueles que vivenciam o luto pela perda de saúde ou pela morte de uma pessoa significativa como por profissionais de educação e saúde.

Elementos para uma Intervenção em Aconselhamento Psicológico com Pais Enlutados

“…O material transcrito foi analisado a partir de duas estratégias, contemplando uma leitura vertical (análise individual) e outra, horizontal (cotejando todas as entrevistas), para o estabelecimento de categorias temáticas. Desse modo, com apoio da análise de conteúdo temática (Minayo, 2006), foi possível destacar pontos de convergência e divergência entre os relatos dos participantes acerca da experiência de luto, bem como lançar um olhar analítico sobre o corpus de pesquisa a partir do diálogo estabelecido com a literatura tanto da área do luto, quanto do aconselhamento (Kovács, 2005;Moratto, 1999;Muza et al, 2013;Schmidt, 2012;Souza et al, 2009). Após minuciosa análise, foram delineados principais elementos que emergiram dos relatos dos pais como potenciais marcadores de necessidades, que devem ser consideradas na proposta de um programa de intervenção em aconselhamento psicológico com casais enlutados.…”

“…Os casais 4 e 5, que também passaram por internação hospitalar devido ao aborto espontâneo (casal 4) e ao adoecimento do filho recém-nascido por pneumonia (casal 5), não relataram que receberam apoio dos serviços de saúde no sentido da oferta de um espaço de reflexão, instilação de esperança e acolhimento da dor. Assim, um primeiro elemento do aconselhamento psicológico deve ser o acolhimento desses casais na urgência da dor, em pronto-atendimento psicológico de emergência (Souza et al, 2009), tanto na preparação para a morte, como ocorre nos cuidados paliativos, quanto no momento em que os filhos adoecem e evoluem a óbito.…”

“…Nesse sentido, mais importante do que a abordagem teórica adotada, é a pronta oferta de um espaço de escuta, com intervenções que ofereçam ao enlutado o acolhimento necessário para que ele possa se reestruturar ao vivenciar seu sofrimento. A construção de um espaço como este foi descrita por Souza et al (2009), na forma de um serviço de pronto-atendimento psicológico às pessoas que vivenciam uma perda significativa. Os resultados dessa intervenção apontaram para a importância da oferta desse serviço tanto para as pessoas que vivenciam o luto pela perda da condição de saúde ou por morte de uma pessoa significativa, como também por profissionais de saúde, que lidam constantemente com a morte e o morrer.…”

“…Quando não elaborado, o luto pode desencadear prejuízos psíquicos, sociais e emocionais, levando à necessidade de intervenções que atendam à demanda emocional dos casais que perderam seus filhos. É nesse sentido que alguns programas têm sido delineados como estratégia de fornecimento de suporte, orientação e acompanhamento para pessoas que experienciam o luto (Kovács, 1992(Kovács, , 2012Pascoal, 2012;Sandler et al, 2003;Santos & Sales, 2011;Souza, Moura, & Corrêa, 2009), inclusive com casais (Silva & Nardi, 2010). Alguns desses programas sustentam-se na oferta de psicoterapia, que se baseia, em linhas gerais, na possibilidade de que, a partir de um processo de construção e reconstrução de sentidos sobre vínculos, solidão, saudade e enfrentamento, as pessoas possam narrar suas experiências de modo a enfatizar o processo de transformação de si a partir do enlutamento decorrente da perda de um ente próximo (Alves, Fernández-Navarro, Ribeiro, Ribeiro, & Gonçalves, 2014).…”

“…Na formação acadêmica dos psicólogos e dos demais profissionais de saúde, muitas vezes não há espaço disponível para que os estudantes reconheçam e elaborem seus sentimentos e experiências acerca da morte, do morrer e do luto. Formados nesse modelo e sob essas circunstâncias, alguns desses profissionais podem encontrar dificuldades de trabalhar com a temática, de modo que acabam automatizando conceitos, com pouco ou nenhum espaço para enfrentarem seus próprios limites e desafios diante da temática (Domingues et al, 2013;Muza et al, 2013;Souza et al, 2009). Assim, observase uma falta tanto de formação acadêmica adequada, quanto de aproximação prática com a área ou mesmo disponibilidade interna para entrar em contato com pessoas em sofrimento, por vezes, intenso e aflorado.…”