A relação entre trabalho e sofrimento psíquico é abordado a partir de uma experiência de trabalho psicoterapia) com funcionários públicos. O caso brasileiro é aqui analisado num momento em que ocorrem profundas transformações políticas neste âmbito. "Sempre que se quiser saber como vai a saúde mental dentro de uma determinada instituição pública, basta observar quantas vezes por ano seus dirigentes reformam suas salas, divisórias, paredes, cortinas..." Ao fazer tal ironia, um antigo funcionário ministerial talvez ignorasse estar destacando um importante indicador para uma pesquisa deste tema.[O poder é um exercício de atordoamento, uma precaução contra a ociosidade e suas angústias] Pascal O que dizer de verdadeiramente importante, num breve e ligeiro artigo sobre uma temática que envolve dois dos mais reverenciados tabus dentro da sociedade brasileira: o funcionalismo público e a saúde mental? E, ainda mais, quando as fontes disponíveis sobre o assunto em questão são praticamente inexistentes ou, então, não tão dignas de honorabilidade?Como a idéia fundamental é apenas trazer para discussão o problema relacional Trabalho versus Saúde Mental e colocar em evidência as dificuldades mais graves que os funcionários públicos vêm sofrendo dentro de seus locais de trabalho, não me resta outra alternativa senão valer-me, para estas considerações, por um lado, de minha experiên-cia como psicoterapeuta no interior de uma instituição pública federal, e por outro, da escassa literatura pertinente que dispomos. Espero que os leitores, acostumados à um maior rigor científico, me permitam, pelo menos por esta vez, valer-me de uma linguagem, digamos, jornalística, para tratar de tema tão relevante.A relação entre trabalho e transtornos mentais, ou entre trabalho e sofrimento psí-quico (trabalho em geral), é um assunto que, se até pouco tempo era mantido em sigilo no mundo inteiro, agora começa a ser discutido e encarado, mesmo com todas as dificuldades que a discussão da saúde mental sempre teve que enfrentar. Apesar do número de funcionários que sofrem de transtornos mentais e de doenças psicossomáticas visivelmente relacionadas à organização do trabalho ser imenso, na verdade, ainda existe um preconceito enorme dentro das instituições em se falar e em se tratar de assuntos relacionados à saúde mental. Com medo de serem rotuladas de "loucas" por um psicólogo, por um psiquiatra ou pelos próprios colegas, as pessoas, mesmo as já conscientes de seus conflitos, investem tudo na sua dissimulação e no seu ocultamento, o que, freqüentemente, as têm desestabilizado e marginalizado ainda mais no universo das relações do trabalho e até mesmo as lançado nas estatísticas dos incapacitados.Para que se tenha uma idéia da gravidade do que se está falando, um documento da OMS, já em 1985, indicava que 5