No olho do furacão: contribuição ao debate sobre a residência multiprofissional em saúde

Abstract

Interessante abordagem conceitual, mas com uma limitação. Por que não reconhecer que os diferentes lugares não são monolíticos, mas também constituídos por múltiplos atores em processo de mútua afetação? Por que tentar caracterizar o Estado como o normativo-prescritivo, o residente como o produtorinovador, as entidades médicas como o masculino dominador-conservador? Por que não reconhecer que o processo é dinâmico, configurado por múltiplas apostas, de modo que compreender a trama de disputas importa para significar os diferentes discursos em diferentes momentos?De todo modo, o tema -a Residência Multiprofissional em Saúde -é relevante e a abordagem instigante. Não falo de qualquer lugar. Sou "ator" implicado no processo. Anteriormente, como ocupante do lugar Ministério da Saúde, depois, do lugar movimento social, e, atualmente, em um dos "assentos" da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde.Por que disputar a Residência como modalidade de formação? Qual a importância disso para a construção do SUS? Por que essa "bandeira" não tinha entrado na agenda política dos formuladores de política, apesar de a possibilidade legal de instituir a aprendizagem pelo trabalho (a especialização em área profissional) estar assegurada no âmbito da educação? Por que somente a categoria médica tinha sua "especialização em serviço" regulamentada e financiada com recursos públicos?Por que a residência, essa modalidade de especialização pelo trabalho, é interessante? Considerando a importância que o trabalho vivo e as tecnologias leves têm dentro da organização do trabalho em saúde, a possibilidade de organizar a formação "em ato", no momento da produção do "encontro" entre trabalhador e usuário, é extremamente interessante. Ela pode ser usada hegemonicamente, subordinando as relações aos procedimentos. Mas também pode ser usada inventivamente, possibilitando a abertura para o desafio para ampliar a escuta, produzir novas tecnologias de cuidado, ampliar a construção compartilhada de projetos terapêuticos com a participação do usuário.Se a especialização pelo trabalho é construída de modo articulado, envolvendo gestores, trabalhadores, residentes e usuários, ela pode se configurar como agenciamento em defesa da vida. Se envolve instituições formadoras e de serviço, pode contribuir para a inovação de práticas de saúde e de formação, num formato

Terapia ocupacional e a educação para a interprofissionalidade em residências multiprofissionais em saúde

“…Este cenário expressa, de modo geral, o compromisso dos movimentos por mudanças na formação dos profissionais da saúde com a compreensão ampla do significado de currículo, considerando, assim, que ele deva expressar o posicionamento da universidade diante de seu papel social e dos conceitos de saúde e educação (Feuerwerker;Almeida, 2003).…”

“…Realiza a formação "em ato", no momento da produção do "encontro" entre trabalhador e usuário (Feuerwerker, 2009). Os programas de residência multiprofissional em saúde devem, portanto, ser orientados pelos princípios e diretrizes do SUS, a partir das necessidades e realidades locais e regionais (Brasil, 2012a (Brasil, 2012a).…”

“…integralidade, trabalho em equipe multiprofissional e recuperação da dimensão das práticas de saúde (Feuerwerker;Cecílio, 2007 (Brasil, 2011a). Ainda que a Política Nacional de Atenção Básica (Brasil, 2011a) tenha como estratégia prioritária a Saúde da Família para expansão e consolidação da atenção básica (Brasil, 2011a), a implantação dessa rede no Brasil ocorre de maneira bastante heterogênea, de modo que ela é constituída por diferentes serviços atualmente (Campos et al,…”

“…Foi possível também compreender deste relato a (re)afirmação, já bastante explorada pela literatura (Gil, 2005(Gil, , 2006Da Ros, 2006;Feuerwerker;Cecílio, 2007), de que a formação graduada ainda é insuficiente para a atuação no SUS. Além disso, apontou-se que a formação seria eminentemente uniprofissional e careceria de experiências de colaboração entre as profissões para o cuidado em saúde.…”

“…Preceptor 1 RMS 3 CH Esses resultados confirmam a literatura sobre a inserção do terapeuta ocupacional em programas de residências da atenção hospitalar (Mitre, 2012), que refere que o processo de formação do terapeuta ocupacional em programas de RMS realizados na atenção hospitalar requer uma releitura das práticas da profissão com vistas à ampliação das ações e da integralidade do cuidado. Tal situação pode justificar o surgimento de dúvidas e tensões dos residentes sobre a atuação da terapia ocupacional diante das práticas no hospital, que apresentam marcas constituídas historicamente pela priorização do trabalho médico e do trabalho em saúde pautado em procedimentos, em detrimento da dimensão cuidadora em saúde (Feuerwerker;Cecílio, 2007).…”