Considerações sobre os discursos do aconselhamento nos centros de testagem anti-HIV

Abstract

O objetivo do trabalho foi analisar a incorporação da prática de aconselhamento nos centros de testagem anti-HIV, como decorrência da construção discursivo-social da AIDS, no contexto da modernidade tardia e com base na proposição expressa pelo Programa Nacional de DST/AIDS do Brasil. Como principal referência analítica, foram tomadas as influências globais no processo de democratização dos discursos e das práticas modernas, contextualizadas por Fairclough. Utilizou-se também como referência teórica a evolução dos discursos preventivos veiculados desde a identificação da infecção e as tecnologias de poder disciplinar e de confissão. O aconselhamento contempla temas importantes, como tecnologização, reflexividade e diálogo. Pode-se identificar, nele, um jogo de ambigüidades entre os sistemas democrático e coercitivo, conjugando modos liberadores e disciplinares. Compreender o aconselhamento sob o ponto de vista dessa ambigüidade gera questionamentos ainda pouco investigados. É necessário entender a prática do aconselhamento do ponto de vista do usuário, a quem a proposta é dirigida.

Demandas e expectativas de usuários de centro de testagem e aconselhamento anti-HIV

“…9 Counseling, in this case, may be characterized as a resource of potential control, which combines hierarchy techniques with the sanction that normalizes. 4,10,16 Thus, counseling can be seen as a strategy of disciplinary power, 14 "as it is ruled by basic guidelines and procedures, established by the National STD/AIDS Program, founded by the Federal Government, and as it challenges subjects in many moments, with the use of regulating and corrective mechanisms." 16 Unlike the restricted demand with a passive positioning during counseling, the interviewees also revealed more participative and refl ective postures regarding assistance.…”

“…4,10,16 Thus, counseling can be seen as a strategy of disciplinary power, 14 "as it is ruled by basic guidelines and procedures, established by the National STD/AIDS Program, founded by the Federal Government, and as it challenges subjects in many moments, with the use of regulating and corrective mechanisms." 16 Unlike the restricted demand with a passive positioning during counseling, the interviewees also revealed more participative and refl ective postures regarding assistance. An example was the demand for guidance and explanations aiming at a subsequent defi nition of viable strategies, in accordance with the participant's beliefs and life conditions: 4 view, counseling, as a technology of the discourse of modernity that is frequently applied to the areas of teaching, health and publicity, is part of a change in contemporary discourse which, in an ambiguous way, presents a democratic-emancipatory and disciplinary-regulating tendency.…”

“…3,11,14 Counseling proposes practice that is related to integral care and health promotion, through interventions based on the singularity of the subjects' worldview and on shared social experiences. 1,16 Its effi cacy depends on a health policy that is sensitive to the sociocultural context and to sexual identity questions. 11 In addition, preventive approaches are targeted at personal and collective themes, like gender relations, prejudice and civil rights, and they cannot be regulated by general orientations.…”

Narrativas sobre risco e culpa entre usuários e usuárias de um serviço especializado em infecções por HIV: implicações para o cuidado em saúde sexual

“…In other contexts, the notion of social defense (Moutinho, 2014) This perspective -which stresses autonomy promotions in the context of health/STIs -it retakes a notion of body control, linking public health narratives with discourses that lie between social protection and coercion (Souza and Czeresnia, 2007). In addition, while Patient 9's statement places an idea of social defense as the focus, and in opposition to the possibility of autonomy, it silences the public's non-recognition of different ways of experiencing sexuality (Moutinho, 2014).…”

Aconselhamento na prevenção do HIV: olhar dos usuários de um centro de testagem

“…É uma prática que faz uso de mecanismos classificató-rios e avaliativos, como no caso do preenchimento da ficha do sistema de informação implantada pelo Ministério da Saúde; é necessário que o usuário participe de um aconselhamento coletivo, antes da realização do teste anti-HIV; realiza-se atendimento individual que se propõe a conhecer as práticas sexuais dos usuários, bem como os riscos atribuídos a seu(ua)s parceiro(a)s 14 .…”