A palavra parece valer pouco no mundo do progresso. Aqui não há tempo para palavras como comunidade, memória e experiência, mas estas resistem desde as “margens” e têm ocupado espaços de poder: a literatura indígena, por exemplo, tem presenteado muitos escritores com seus universos singulares, evidenciando as diferenças existentes nos mais de 305 povos e nas mais de 280 línguas, só no Brasil. Porém, estas são, ainda, histórias invisibilizadas no país e há que se ter o cuidado para, ao contá-las, não cair em estereótipos e romantizações distantes da realidade e acabar reiterando a marginalização dos povos originários. Dessa forma, para o contador de história não indígena há um desafio diante dessa diversidade e, ao mesmo tempo, falta de conhecimento: como contar estas histórias? Quais as implicações éticas? Como as diferentes etnias vivem as suas histórias ancestrais no seu cotidiano? Neste artigo procuro compreender estes questionamentos que me levaram, enquanto “corpo-arquivo”, aos caminhos junto às mulheres Baniwa na comunidade de Itacoatiara-Mirim, na região periurbana da cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM). E, por fim, vislumbro a possibilidade de, nesta vivência, “trair” a palavra dita “ocidental”, em busca de narrações mais enraizadas onde possa haver escuta, vínculo e pertencimento.