Um currículo de masculinidades nos estádios de futebol

Abstract

O artigo procura analisar diferentes masculinidades nos estádios de futebol e ver de que forma elas se hierarquizam, mostrando como as ações dos torcedores, seus cânticos, suas vestimentas e faixas estão envolvidos nas construções das masculinidades desses sujeitos. Os estádios exercem uma pedagogia: aprende-se quando gritar, quando calar, o que gritar, o que calar, o que e como sentir... Argumentase que o conceito de currículo construído nos estádios de futebol pode ser pensado como práticas que os sujeitos são reiteradamente convidados a fazer. Essas práticas são sistematizadas no artigo em quatro eixos: raça, garra e luta; violência e socialização; um amor de macho; masculinidades subalternas.

“Isso é Cris Ronaldo”: Representações de masculinidade na Copa do Mundo do Jornal Folha de São Paulo

“…A partir desses aspectos, entendemos que "pedagogias culturais" (Sabat, 2001) são produzidas na relação entre mídia, futebol e marcadores sociais, como classe, raça, sexualidade e gênero, um intricado e complexo processo que produziu/produz representações diversas associadas ao esporte. Historicamente, as práticas esportivas, de modo geral, e o futebol, em particular, estão associados ao universo masculino, o que tem gerado um conjunto de barreiras que afastam as mulheres e os homens que não correspondem a determinadas expectativas de masculinidade (Goellner, 2005;Bandeira, 2010). Tais fenômenos são indicativos das "pedagogias de gênero" (Louro, 2008) no currículo do futebol, o que tem sido produzido e agenciado na relação com diversas instâncias sociais, entre elas, a mídia.…”

Homofobia no futebol masculino: revisão narrativa de literatura

“…Assim, o futebol no Brasil, como esporte de espetáculo e de contato, exige a performatividade de características conhecidas tipicamente como masculinas, como a virilidade e força (Bandeira, 2010). Dessa forma, pessoas dissidentes desses aspectos podem ser marginalizadas e excluídas desse espaço.…”

“They’ll think it’s a joke, but for us, it is not!”: speeches of resistance from Brazilian gay soccer clubs

“…In the soccer context, homosexuals are discriminated against by the use of homophobic insults, performative acts of speech that provide offenses to athletes and gay fans and silence them, reinforcing the cult of hegemonic masculinity (BANDEIRA and SEFFNER, 2013). In the list of these discursive practices, naturalized in competitions and virtual media, are commonplace: homophobic chants; cursing alluding to the feminization of opponents; pejorative jokes and/or double sense; and offenses directed at players, either for their performances considered insufficiently masculine or for intolerance to failures in the game (BANDEIRA, 2010;KIAN, CLAVIO, VICENT et al, 2011;ALMEIDA and SOARES, 2012;BANDEIRA and SEFFNER, 2013;MAGRATH, 2018).…”

“…However, the literature concerning the phenomenon is markedly lacking and concentrated in the United Kingdom, Ireland and Iceland (JONES and MCCARTHY;2010;STASI and EVANS, 2013;BURY, 2015;JARVIS, 2015;WILLIS, 2015), revealing the need for studies at the Brazilian context since similar initiatives have emerged on national territory, especially since 2017 (JESUS, 2019). Furthermore, the emergence of gay soccer clubs in the country is understood as a fruitful reflection for critical organizational studies, in terms of the relationship between discourse and resistance and, particularly, in sports institutions.…”