Recebido em 16/03/2015 e aprovado em 17/06/2015.Resumo: Nesse artigo nos debruçamos sobre as imagens de Matias de Albuquerque, governador geral do Estado do Brasil e Conde de Alegrete, produzidas em duas obras de arte: o livro memorialístico e historiográfico 'Memórias Diárias de la Guerra del Brasil', e o retrato anônimo do Conde de Alegrete, ambas datadas da segunda metade do século XVII. Procuramos analisar elementos dessas duas obras para melhor compreender as conexões entre as elites das capitanias açucareiras da América portuguesa e a corte da Monarquia Católica no século XVII. Palavras-chave: retrato barroco. Elites coloniais. Cultura cortesã.Abstract: This paper analyses the images of Matias de Albuquerque in two works of art: the book 'Memórias Diárias de la Guerra del Brasil' and an anonymous painting representing him as Count of Alegrete. Both art works dating from the second half of the Seventh Century. In this paper, we discuss different aspects in both this works aiming a better comprehension of the insertion of colonial elites from Portuguese America in the court of the Spanish Habsburg. Keywords: baroque painting. Colonial elites. Courtesan Culture.
IntroduçãoEm 1669, o príncipe da Toscana, Cósimo III de Médici, após visita a Portugal, adicionou a sua ampla coleção de arte, quinze retratos de nobres portugueses pintados em celebração à independência contra a Espanha.Entre os quinze retratos estava o do Conde de Alegrete, fidalgo que se destacara na batalha de Montijo. Mas antes dessa vitória, Alegrete cultivara décadas de participação ativa nas políticas de corte e na administração colonial, tanto baixo o recém coroado D. João IV, quanto sob os Habsburgo.Alegrete era Matias de Albuquerque, neto do primeiro donatário de Pernambuco, Duarte Coelho, e irmão do quarto donatário, Duarte de Albuquerque Coelho, com quem herdara uma considerável fortuna colonial que lhes havia garantido a atenção e os cuidados do próprio Felipe II de Espanha. Durante a guerra contra à WIC no Estado do Brasil, Albuquerque fora um dos principais comandantes, assumindo o papel de governador geral durante a invasão da Bahia em 1624, mas o fracasso da resistência em Pernambuco em 1635 lhe tirara das boas graças de Felipe IV e lhe atirara na