Desde o seu surgimento, em 1839, o dispositivo fotográfico foi amplamente utilizado para retratar a família, seus membros e vínculos. A nova imagem técnica logo se tornou parte essencial da vida doméstica, exibindo o meio familiar como instituição social e como portador de laços íntimos e amorosos. O artigo aborda o universo da fotografia de família, destacando sua produção e seu uso no contexto funerário e de luto. A ideia central é a de que o retrato fotográfico, depois da morte da pessoa retratada, torna-se o novo corpo do morto, lugar de contato e vínculo. O luto é pensado como um estado permanente de conexão do vivo com os seus mortos. Olhar a fotografia do ausente é uma forma do vivo ser olhado de volta, um meio dele também não ser esquecido. A presença de ambos os corpos, o do vivo e o do morto, é essencial no processo simbólico que se desenrola, que faz projetar uma relação sempre atualizada. Mas, por fim, talvez sejam as fotografias objetos puramente melancólicos e vazios, através dos quais se evidencia a solidão dos sobreviventes.