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Ana Amélia Brasileiro Medeiros SilvaUniversidade do Estado do Rio de Janeiro A ideia de que o documentário é o relato de um encontro entre quem filma e quem é filmado 1 parece-nos bastante útil para empreendermos um olhar analítico sobre o vídeo Maria Lacerda de Moura: trajetória de uma rebelde (de 33 minutos, lançado em 2003, no Brasil) e a partir daqui pensarmos como o meio audiovisual pode gerar novas percepções e entendimentos sobre uma dada realidade histórica. E neste caso específico, de uma personalidade/ personagem histórica cuja complexa construção se liga a importantes significados da luta política das mulheres no Brasil, na primeira metade do século XX.Diferentemente de trabalhos audiovisuais em que os realizadores se "encontram" face a face com os sujeitos a serem representados, estabelecendo relações mais ou menos próximas, criando diálogos e discussões entre pontos de vista, em Maria Lacerda de Moura não temos este encontro direto entre o sujeito e aquele que o representa. Aqui, o que temos é o "encontro" entre uma determinada ANA AMÉLIA BRASILEIRO MEDEIROS SILVA 528 Estudos Feministas, Florianópolis, 17(2): 527-546, maio-agosto/2009 narrativa histórica -a pesquisa produzida 2 entre 1978 e 1983 pela historiadora Miriam Moreira Leite sobre Maria Lacerda de Moura -e a heterogênea equipe de realizadores 3 (encabeçada pela autora da pesquisa e pela antropóloga e diretora Ana Lúcia Ferraz), com diferentes formações acadê-micas, graus variados de familiaridade com a linguagem audiovisual e com impressões específicas sobre Maria Lacerda. 4 A complexidade e as dificuldades (bem como a densidade) desse encontro tão polivalente sobressaem diante de nossos olhos, ao mesmo tempo que tentamos imergir na história da personagem-título contada no filme.Se todo filme documentário se confronta com a questão da representação da realidade que se deseja tematizar, aqui esse enfrentamento se complexifica na medida em que a "realidade" tomada como objeto já é ela mesma uma representação muito particular da protagonista. O filme dramatiza de modo subjacente, ao longo de sua narrativa, uma série de problemas em torno da questão da representação -tão cara às Ciências Sociais.Ele lida, em primeiro lugar, com o desafio da reconstituição histórica da vida de uma personagem real, apoiada na pesquisa academicamente validada. Como -nos termos que sugere Bill Nichols 5 -o realizador de um filme espera criar uma representação comensurável com a magnitude do ente que ele descreve (ou ainda, este "corpo desaparecido" que precisa ser reconstituído)? Que relações essa figura reconstituída estabelece com a pessoa histórica, ausente? Outro problema estreitamente ligado ao da reconstituição que aqui se tenta processar é o da transposição desse "roteiro prévio", ou seja, a pesquisa acadêmica de Miriam Moreira Leite, para um filme de 33 minutos. Mais especificamente, como transmutar uma extensa obra analítica, fundada na lógica do texto escrito, para a linguagem audiovisual, que privilegia uma forma de conhecer que se dá pela expressividad...
Ana Amélia Brasileiro Medeiros SilvaUniversidade do Estado do Rio de Janeiro A ideia de que o documentário é o relato de um encontro entre quem filma e quem é filmado 1 parece-nos bastante útil para empreendermos um olhar analítico sobre o vídeo Maria Lacerda de Moura: trajetória de uma rebelde (de 33 minutos, lançado em 2003, no Brasil) e a partir daqui pensarmos como o meio audiovisual pode gerar novas percepções e entendimentos sobre uma dada realidade histórica. E neste caso específico, de uma personalidade/ personagem histórica cuja complexa construção se liga a importantes significados da luta política das mulheres no Brasil, na primeira metade do século XX.Diferentemente de trabalhos audiovisuais em que os realizadores se "encontram" face a face com os sujeitos a serem representados, estabelecendo relações mais ou menos próximas, criando diálogos e discussões entre pontos de vista, em Maria Lacerda de Moura não temos este encontro direto entre o sujeito e aquele que o representa. Aqui, o que temos é o "encontro" entre uma determinada ANA AMÉLIA BRASILEIRO MEDEIROS SILVA 528 Estudos Feministas, Florianópolis, 17(2): 527-546, maio-agosto/2009 narrativa histórica -a pesquisa produzida 2 entre 1978 e 1983 pela historiadora Miriam Moreira Leite sobre Maria Lacerda de Moura -e a heterogênea equipe de realizadores 3 (encabeçada pela autora da pesquisa e pela antropóloga e diretora Ana Lúcia Ferraz), com diferentes formações acadê-micas, graus variados de familiaridade com a linguagem audiovisual e com impressões específicas sobre Maria Lacerda. 4 A complexidade e as dificuldades (bem como a densidade) desse encontro tão polivalente sobressaem diante de nossos olhos, ao mesmo tempo que tentamos imergir na história da personagem-título contada no filme.Se todo filme documentário se confronta com a questão da representação da realidade que se deseja tematizar, aqui esse enfrentamento se complexifica na medida em que a "realidade" tomada como objeto já é ela mesma uma representação muito particular da protagonista. O filme dramatiza de modo subjacente, ao longo de sua narrativa, uma série de problemas em torno da questão da representação -tão cara às Ciências Sociais.Ele lida, em primeiro lugar, com o desafio da reconstituição histórica da vida de uma personagem real, apoiada na pesquisa academicamente validada. Como -nos termos que sugere Bill Nichols 5 -o realizador de um filme espera criar uma representação comensurável com a magnitude do ente que ele descreve (ou ainda, este "corpo desaparecido" que precisa ser reconstituído)? Que relações essa figura reconstituída estabelece com a pessoa histórica, ausente? Outro problema estreitamente ligado ao da reconstituição que aqui se tenta processar é o da transposição desse "roteiro prévio", ou seja, a pesquisa acadêmica de Miriam Moreira Leite, para um filme de 33 minutos. Mais especificamente, como transmutar uma extensa obra analítica, fundada na lógica do texto escrito, para a linguagem audiovisual, que privilegia uma forma de conhecer que se dá pela expressividad...
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