ResumoEste artigo investiga a trajetória de vida de mulheres que participaram da consolidação de uma indústria do entretenimento num momento de grande efervescência cultural no Brasil. A análise se baseia nas carreiras artísticas das chacretes, as dançarinas de palco que auxiliaram o apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha, nos programas de auditório que comandou entre as décadas de 1960 e 1980 na televisão brasileira. A partir de uma pesquisa de campo realizada no Rio de Janeiro, pretende-se debater as experiências por elas vivenciadas a partir da escolha deste tipo de carreira, já que ser uma "mulher da TV" afetou de maneiras distintas seus cotidianos, redefinindo vínculos sociais, projetos e expectativas. O argumento central é que as chacretes que assumiram de certa forma a performance social de "puta", formulada em torno de suas figuras públicas e midiáticas, obtiveram mais prestígio e distinção social entre seus pares na disputada e instável carreira artística na TV.
Palavras-chaveGénero, carreiras artísticas, televisão, estigmas, performance.Se acaso me quiseres, Sou dessas mulheres Que só dizem "sim!", Por uma coisa à toa, Uma noitada boa, Um cinema, um botequim.
Folhetim -Chico BuarqueA proposta mais ampla deste trabalho é contribuir para um estudo acerca da trajetória de vida de mulheres que participaram diretamente da produção dos meios de comunicação e na consolidação de uma indústria do entretenimento num momento de grande efervescência política, económica e cultural no Brasil. As carreiras artísticas das chacretes -dançarinas de palco que auxiliaram o apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha�, nos inúmeros programas que comandou entre as décadas de 1960 e 1980 na televisão brasileira -nos servirão de ilustração para alcançarmos este objetivo. A partir de uma pesquisa de campo realizada no Rio de Janeiro junto a essas antigas dançarinas�, pretende-se debater as experiências por elas vivenciadas a partir da escolha deste tipo de carreira, já que ser uma "mulher da TV" afetou de maneiras distintas seus cotidianos, redefinindo vínculos sociais, projetos e expectativas.As lembranças das chacretes sobre esse momento específico de suas trajetórias afetivo-profissionais ressaltam de forma positiva a mobilidade social e o contato com experiências cosmopolitas que este mundo artístico teria garantido