Florbela erótica

Abstract

Este artigo trata, como sugere o título, do erotismo da poética de Florbela Espanca. A Virgem florbeliana agasalha em seu regaço o paradoxo do bem e do mal concernente à mística da mulher. Esse é o seu modo de declarar que a porção demoníaca do feminino, esse corpo estranho, com seus valores noturnos, esse continente negro, acepção do ser sexuado, da portadora do pecado e da sedução, da desordem e do desenfreado - não pode ser expurgada sequer da imagem mais celestial que erige para si mesma.

Um herbário para Florbela: raiz, cor, folha e flor da charneca alentejana

“…São incontáveis os estudos e a bibliografia produzida acerca da sua obra e personalidade, acerca da sua vida e morte. E, quase sempre, o foco é apontado para a poetisa e musa, para o sujeito poético, para o eu lírico em busca do Eu, analisando temas como o amor e a morte, a mágoa e a saudade, sublinhando o simbolismo e o erotismo da sua escrita (Alonzo, 1997;Corral, 1997;Dal Farra, 2002;Silva, 2004;Vilela, 2015). Arrisco outra direcção e sentidos.…”

“…Ao ler em paralelo a ambiência dos dois excertos (e porque o abraçou do conto logo me recordou os teus braços do soneto), ocorre-me aventar uma ousada provocação: sugerir uma viravolta na leitura erótica (Dal Farra, 2002) daquela estrofe e imaginá-la, por momentos, não nos lábios líricos da líbido, mas na voz ‗amurosa'… da horta, em resposta ao olhar amoroso do velho Gabriel. A poetisa conhece bem esta invisível polifonia da paisagem, ela que confessa:…”