O presente artigo parte da análise de um processo-crime da última década do século XIX, que tem como ré uma imigrante europeia que desempenhava o ofício de parteira na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Conflitos entre imigrantes que chegavam ao Brasil com qualificação profissional era um dos aspectos que marcava a trajetória daquelas mulheres que precisavam garantir uma inserção social, conquistar clientes e prestígio na sociedade. O trabalho das parteiras era amplo, indo além daquele ligado apenas a assistência ao parto, uma vez que eram conhecedoras de saberes e práticas diversas que vinham da medicina popular e da ensinada nas universidades. Um dos objetivos principais do trabalho é indicar para as possibilidades da utilização dos documentos judiciais no avanço dos estudos ligados aos campos de atuação das mulheres imigrantes em realidades urbanas. Desse modo, parte-se da análise de situações específicas para apreender as lógicas que orientavam os comportamentos, as percepções, expectativas e controles, sendo os dados nominativas tomados como fios condutores para mapear percursos individuais e coletivos em outras fontes documentais. Através do cruzamento das informações extraídas de documentos diversos, é possível apreender de maneira complexa as atividades, articulações, escolhas, bem sucedidas ou fracassadas, e desempenhos que marcam as experiências e o trabalho das parteiras imigrantes no Brasil.