Saindo de cena: parlamentares que desistem da disputa eleitoral (1990-2006)

Abstract

Cansados ou excluídos? O texto mapeia perfis de políticos que tendem mais freqüentemente a abandonar a carreira eleitoral. A pesquisa abarca as eleições legislativas de 1990 a 2006, observando o perfil de deputados e senadores que recusaram a condição de "candidatos natos" e optaram por não disputar a reeleição e nem concorrer a cargos considerados mais altos. São incluídos na análise também os políticos os que disputaram cargos considerados de menor prestígio do que os anteriormente exercidos, de modo a evidenciar trajetórias mal-sucedidas e compará-las com os casos em que a desistência do mandato é total. Esse grupo de parlamentares constituiria, à primeira vista, a exceção da conhecida formulação de que os políticos são progressivamente ambiciosos. Em linhas gerais, observou-se que os políticos que recuam na disputa eleitoral, seja permanentemente, seja com pequenas estratégias de continuação, pertencem a grupos que 1) já esgotaram de alguma forma sua participação e influência no jogo político (exposição em escândalos, idade avançada, participação em grupos sociais em decadência) ou que 2) ainda não conseguiram penetrar no campo político com a mesma desenvoltura de seus pares (mulheres, estreantes de primeiro mandato ou suplentes e parlamentares de bancadas muito pequenas).

Carreira e ambição política dos vereadores de Salvador (1997-2012)

“…Nesse contexto, é importante considerar a noção de capital político como um elemento que influencia a tomada de decisão eleitoral (Maluf 2006). A formulação do conceito de capital político tem origem nos escritos de Pierre Bourdieu, e inspirou os pesquisadores brasileiros (Florentino 2008;Leal 2010;Lima 2013;Maluf 2006;Miguel 2003;Noll & Leal 2008;Oliveira 2009;Santos, M. 2000). Porém, o emprego desse conceito implicou na sua reformulação.…”

Ambição Política, Perfis De Carreira E Representação De Minorias: O Caso Da Assembleia Legislativa De Minas Gerais (Almg)

“…Uma possível falta da ambição progressiva no caso das minorias sociais pode estar vinculada com as próprias barreiras que eles encontram, além da dificuldade de ser um candidato viável na escolha do partido para cargos mais altos, concorrendo com outros perfis que são mais atrativos para as eleições. Nesse sentido, Florentino (2008) coloca que boa parte dessas análises sobre ambição política tem como base um ator racional e focam em uma interpretação materialista, com isso, essas análises acreditam que os políticos estariam focados, quase que exclusivamente, na maximização dos seus interesses. Essas abordagens falham quando não se consideram fatores que podem impedir que candidatos potenciais desejem e/ou consigam alcançar cargos mais elevados.…”

“…Dessa forma, a diferença de raça, sexo e ocupação profissional na ambição política relaciona-se à probabilidade de se candidatar e de conseguir se eleger. Florentino (2008) percebeu que um dos fatores que levam os deputados a desistirem da disputa eleitoral ou a concorrerem a cargos mais baixos é o fato do seu grupo social não ter conseguido penetrar no campo político da mesma forma que outros, se tornando exceção da regra de ambição progressiva. A autora coloca que estruturas sociais podem explicar porque determinados deputados estão mais propensos a isso, citando como exemplo as mulheres, os estreantes ou suplentes e parlamentares de bancadas pequenas.…”

Carreiras Políticas no Brasil: Amadores e de Passagem nas Camaras Municipais de SP e RJ

“…Somando-os aos de até dois mandatos, expressam 79,2% na primeira e 78,7% na segunda. Contudo, como já adverti na parte metodológica, a classificação de vereadores como amadores e/ou de passagem não deve ser confundida como equivalente a desistência, tal como colocado por outros autores que examinam tal característica (FLORENTINO:2008). Frente a esses dados é seguro afirmar que as duas câmaras pouco retêm representantes populares, o que é alvissareiro para os defensores da alta rotatividade como sendo indicador do vigor do regime democrático.…”