a DúviDa Do gineCologista: presCrever ou não hormônios na mulher no Climatério?A importância médico-social do atendimento da mulher no climatério (período de vida dos 40 a 65 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde) é condição impar, pois em nenhum período na história da humanidade tivemos uma mudança tão grande na expectativa de vida, com tanta possibilidade de envelhecer com qualidade e participando ativamente na sociedade. Este fato, associado ao aumento da população feminina por grupo etário, faz com que este período constitua nos dias atuais prioridade em saúde pública.A etiopatogenia do climatério é complexa; embora envolva todo o eixo hipotálamo hipófise ovário, a estrutura mais relevante nesse processo é o ovário. Nele ocorre progressivamente a diminuição dos folículos e os remanescentes tornam-se refratários às gonadotrofinas. Esta diminuição leva ao declínio progressivo dos estrogênios e da inibina e por mecanismo de retroação observa-se elevação progressiva das gonadotrofinas FSH (hormônio folículo estimulante) e LH (hormônio luteinizante), na tentativa de manter a foliculogênese, as quais atuando sobre o estroma do ovário, fazem com que haja maior produção de androgênios (testosterona e androstenediona). Estes androgênios, juntamente com os produzidos pelas adrenais nos tecidos periféricos através da aromatase, são convertidos em estrona, principal hormônio da mulher no climatério. Algumas mulheres conseguem assim o seu equilíbrio endócrino, principalmente as que têm boa alimentação desde a infância, praticam esportes e estão bem realizadas do ponto de vista emocional e social 1 . No entanto, de 30% a 40% das mulheres não conseguem manter o equilíbrio endócrino e sofrem as consequências da diminuição progressiva dos estrogênios apresentando: disfunções menstruais, sintomas vasomotores, distúrbios psicológicos, alterações cognitivas, mudanças tróficas, perda óssea, doenças cardiovasculares, necessitando de terapia hormonal.
teraPia HorMoNaLQuando a rainha Elizabeth I, que viveu 70 anos no século XVI, procurou ajuda para seus sintomas, os médicos da corte não estavam preparados para o tratamento de mulheres no climatério, pois o número de mulheres nesta faixa etária era pequeno, não se sabia os mecanismos que causavam a menopausa e os hormônios não eram conhecidos.Foi Doggs, em 1833, quem admitiu a possível participação dos ovários no fenômeno da menstruação, comprovando que a castração feminina levaria à atrofia uterina e perda da menstruação. A partir desta constatação, uma série de descobertas ocorreu, como o isolamento da foliculina em 1923, da estrona em 1929, um ano após do estriol, seguido do estradiol (1933), da progesterona (1937), do dietilestilbestrol (1938) e da comercialização dos estrogênios equinos conjugados (1942). Com a disponibilidade dos produtos comerciais e com os trabalhos mostrando os efeitos positivos dos hormônios, a terapia hormonal continuou a ser difundida cada vez mais de tal maneira que, em 1995, tornou-se uma panacéia com efeitos benéficos no alívio dos sintomas, pr...