Como símbolo do feminismo popular do final da década de 1990, as Spice Girls, grupo pop feminino de maior sucesso da história, tornaram-se não apenas uma marca extremamente rentável para o aquecido mercado da música pop, mas também referência de comportamento para uma legião de fãs espalhados/as por todo o mundo, necessitados/as de referências femininas de comportamento e estilo. Percebo que um ethos foi se constituindo por meio das canções, videoclipes, performances e discursos de empoderamento feminino que marcou o acontecimento Spice Girls. Inspirado nas teorizações pós-críticas do currículo, nos estudos pós-estruturalistas de gênero e nos estudos da Comunicação, objetivo neste texto é compreender como é construída a representação da(s) mulher(es) na produção artística das Spice Girls. Para tanto, lanço o olhar para as letras de músicas dos três álbuns do grupo para efetuar uma análise cultural dos achados. A partir destes, compreendo que três lições são ensinadas pelas cantoras pop: 1) o poder e a valorização da amizade entre as mulheres como ferramentas de apoio mútuo contra os dilemas da vida; 2) a independência emocional frente aos relacionamentos amorosos, o que representa um contra-discurso aos estereótipos de fragilidade e insegurança feminina; e 3) o empoderamento sexual expresso como uma atitude de resistência aos processos de docilização dos corpos das mulheres.