"Encontrando Bianca": discursos sobre o corpo-travesti

Abstract

Este artigo objetiva realizar uma análise dos discursos produzidos sobre o corpo travesti em um vídeo educativo. Toma-se como corpus de análise o vídeo: "Encontrando Bianca", que narra uma história fictícia sobre os dilemas de uma travesti na escola em que estuda. Esse vídeo compõe parte do material educativo Kit anti-homofobia. Faz-se como opção metodológica trabalhar a partir da arqueogenealogia foucaultiana, uma vez que esse acontecimento se insere numa ordem de saber e poder. A conclusão é de que o vídeo, constituindo-se como uma produção discursiva, pode, no lugar de realizar seu propósito de combate à homofobia, apresentar um poder ressurgido que aprisiona o corpo a um discurso ideal e cria um corpo idealizado para as travestis. Palavras-chaveHomofobia, travesti, corpo, sexualidade. This article aims to conduct an analysis of the discourses produced on the transvestite body in an educational video. It takes as a corpus of analysis the video Meeting Bianca, whichtells a fictional story about the dilemma of a transvestite studying at a school. This video is part of an educational kit called "School without homophobia". The methodological option was to work with the Foucauldian arche-genealogy, understanding that the event is inscribed in a relationship of power and knowledge.It concludes that the video, which constitutes a discursive production, maypresent a revived power, which locks the body in an idealistic discourse, producing an idealized body for the transvestites, instead of fighting against homophobia.

Presença E a Permanência De Pessoas Trans Em Ambiente Escolar No Brasil

“…O vídeo era parte integrante do material educativo "Kit anti-homofobia", elaborado pela organização não governamental Comunicação em Sexualidade (ECOS), que foi submetido à avaliação do Ministério da Educação no ano de 2011. O Governo Federal, à época, estudava diferentes propostas para enfrentar e combater a homofobia em instituições escolares brasileiras; no entanto, em decorrência da polêmica fomentada pelas mídias brasileiras em torno do vídeo, que foi divulgado extraoficialmente, o material foi suspenso, por veto da Presidenta Dilma Rousseff (Dinis & Pamplona, 2014).…”

“…Embora sem a consecução das metas do programa, todas as ações para sua efetivação foram concretizadas. O Ministério da Educação e a SDH estiveram em constante diálogo com a Global Alliance for LGBT Education (GALE), com a Comunicação em Sexualidade (ECOS), com a Pathfinder do Brasil e com a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (AB-GLT), para concretização dessas ações (Dinis & Pamplona, 2014).…”

“…Além disso, não é possível se falar de um corpo único das travestis. Nesse caso, o vídeo acaba por constituir um discurso que condiciona o corpo das travestis a um corpo que se assemelharia ao corpo feminino ideal, que não incomoda, que não perturba tanto, que não é nem vulgar nem chamativo ou agressivo, um corpo de unhas vermelhas, porém curtas (Dinis & Pamplona, 2014). Bianca é retratada como uma moça boa que se adequa aos discursos hegemônicos do que se espera de uma mulher.…”